quarta-feira, 23 de novembro de 2016

CONFISSÕES - SANTO AGOSTINHO

Admito que demorei muito para ler este livro, pois, no começo, alguns solilóquios de Santo Agostinho em relação a Deus não estavam me interessando muito. No entanto, tudo mudou a partir do Livro Décimo, quando ele começou a questionar o tempo, a memória e o conhecimento, me levando em uma viagem reflexiva e também me inspirando na criação de alguns poemas.

No decorrer da leitura, fui marcando algumas passagens que mais achei interessantes:

“Uma das mais belas e intrigantes obras de Santo Agostinho, Confissões envolve filosofia, razão e religião. A fé suportada pela razão é o que encontramos neste livro. O confronto entre a razão e a fé, onde uma comprova a existência da outra, fundindo-se em uma só linha de pensamento. Santo Agostinho foi o primeiro filósofo a refletir sobre o sentido da história e tornou-se o arquiteto do projeto intelectual da Igreja Católica. Obra de extraordinária riqueza, antecipa o cartesianismo e a filosofia da existência e funda a filosofia da história.”

“Será talvez pelo fato de nada do que existe sem Ti, que todas as coisas te convêm? E assim, se existo, que motivo pode haver para Te pedir que venhas a mim, já que não existiria se em mim não habitásseis?”

“Porque os versos, a poesia e a fábula de Medéia soando pelo ar são certamente mais úteis que os cinco elementos do mundo em seus mil disfarces, conforme os cinco antros de trevas, que não existem, mas que matam a quem neles acredita. Porém, os versos e poesia eu os posso converter em iguaria para meu espírito...”

“Então eu ignorava tais coisas, - e por isso amava belezas terrenas. Caminhava para o abismo, dizendo a meus amigos: Será que amamos algo que não é belo? E o que é o belo? E o que é a beleza? Que é que nos atrai e apega às coisas que amamos? Pois, com certeza, se nelas não houvesse certa graça e formosura, não nos atrairiam.”

“... Mas, quando apresentei minhas dificuldades à sua consideração e crítica, com grande modéstia, não se atreveu a tomar sobre si tal encargo, pois certamente sabia que ignorava o assunto e não se envergonhava de confessá-lo. Não pertencia à classe de charlatões que me vi obrigado muitas vezes a suportar, que pretendiam ensinar-me tais coisas, mas não me diziam nada...”

“Chegarei assim diante dos campos dos vastos palácios da memória, onde estão os tesouros de inúmeras imagens trazidas por percepções de toda espécie. Lá também estão armazenados todos os nossos pensamentos, quer aumentando, quer diminuindo, ou até alterando de algum modo o que nossos sentidos apanharam, e tudo o que aí depositamos, se ainda não foi sepultado ou absorvido no esquecimento.”

“Não é no tempo que és anterior ao tempo: de outro modo não precederias a todos os tempos. Precedes a todo o passado de tua eternidade sempre presente; dominas todo o futuro porque está por vir e que, quando chegar, já será passado. Contudo, tu és sempre o mesmo, e teus anos não passam jamais. Teus anos não vão nem vêm; mas os nossos vão e vêm, porque não passam. Os nossos, ao contrário, só existirão todos quando não mais existirem. Teus anos são como um só dia, e teu dia não é uma repetição cotidiana, é um perpétuo hoje, porque o teu hoje não cede o lugar ao amanhã e nem sucede ao ontem. Teu hoje é a eternidade. Por isso, geraste um filho coeterno, a quem disseste: Hoje te gerei. - Todos os tempos são obra tua, e tu existes antes de todos os tempos; é pois inconcebível que tenha existido tempo quando o tempo ainda não existia.”

“Agrada-me a tua dúvida, porque revela uma alma sem leviandade, e isto garante imensamente a tranquilidade. É de fato difícil não se perturbar quando o que nós tínhamos como ponto de consenso fácil e pacífico é derrubado e como que arrebatado das mãos das discussões. Por isso, como é justo ceder depois de observar e examinar bem os motivos, assim é perigoso conservar como coisa certa o que não é. Às vezes, quando desmorona aquilo que tínhamos como estável e permanente, pode haver o receio que se gere tão grande aversão ou medo da razão, que nos pareça não podermos mais depositar nossa fé nem sequer na verdade mais evidente...”


Nenhum comentário:

Postar um comentário