sexta-feira, 29 de agosto de 2014

COISAS QUE EU QUERIA SABER AOS 21: SÉRGIO VAZ

"Acabei me tornando o famoso amigo gangorra: quando eu sentava, muita gente levantava", diz poeta

Poeta Sérgio Vaz conta sobre a vida e os sonhos na juventude

Eu venho de um lugar onde achavam que o planeta se chamava Terra porque as ruas não tinham asfalto. No meu bairro não tinha nem escola estadual. A gente não crescia para fazer universidade.

Eu também achava que poesia não tinha utilidade, que era coisa de cara maluco que acorda e fala bom dia para o café, bom dia para o pão, bom dia para o Sol. Porque nos anos 70, na periferia de São Paulo, região violenta, poesia era coisa de gente fresca.

Aos 21 anos eu comecei a me interessar por MPB e, depois, por literatura. Aí conheci Pablo Neruda, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar. Foi quando eu percebi que poesia servia também para lutar contra a ditadura, a favor da liberdade. Nessa idade eu comecei a escrever. 

No futebol, me perguntavam: “Tá escrevendo poesia, mano?”. Eu dizia: “Não, é letra de protesto!” Acabei me tornando o famoso amigo gangorra: quando eu sentava, muita gente levantava. A solidão da literatura é terrível. Ler e não ter com quem comentar é péssimo. Me questionava por que meus amigos não liam. 

Mas, lá dentro, uma coisa já me inspirava a mudar esse cenário. Antes da Cooperifa, eu tive o Poesia Contra a Violência, em que implorava para os diretores das escolas me deixarem entrar e recitar poesias.

Naquela época, minha perspectiva era chegar aos 50 anos prestes a me aposentar, trabalhando 20 anos na mesma empresa, voltando do trabalho e vendo novela, Jornal Nacional. Não imaginava o que aconteceria.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SOCRASTICKER #65

"Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditai sobre isso enquanto podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vividos bastante." 

- Montaigne

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

MAFALDA N° 599

VINAGRE - UMA ANTOLOGIA DE POETAS NEOBARRACOS

Durante a última semana, em que protestos e manifestações tomaram as ruas do Brasil, a produção artística, como era de se esperar, entrou em ebulição, inclusive no Facebook. Frases, poemas criações autorais e coletivas se espalharam pelas redes, mostrando que a arte tem sim um papel político vital e que a internet é um novo território a ser ocupado por poetas, músicos e ilustradores.

Pensando nisso o poeta Fabiano Calixto convocou os interessados em disseminar poesia pelas redes e compilou tudo isso numa publicação, “Vinagre: uma antologia de poetas neobarracos”, assinada pelo coletivo “Os Vândalos”.

Por uma poética de trincheiras & quebradas: nós, Os Vândalos, apresentamos a coletânea Vinagre: uma antologia de poetas neobarracos. Feita por todos. Este trabalho é um trabalho coletivo. A ideia inicial nasceu como gesto público de solidariedade a todos os movimentos de contestação que acontecem simultaneamente no Brasil (& também no mundo). 


Chamados de vândalos pela imprensa vendida, presos pela polícia por causa do vinagre que portávamos, estamos todos na batalha, na rua. Ação direta. Solidariedade & apoio mútuo. Esta antologia é dedicada a todas as pessoas que participam de alguma maneira desse movimento de mudança. Até a vitória! Os Vândalos.



terça-feira, 19 de agosto de 2014

CIA HUMBALADA DE TEATRO - TUDO ESTÁ ORGANIZADO PARA QUE NADA ACONTEÇA

Fui assistir a esta peça de teatro, mas o que ocorreu mesmo foi uma intervenção teatral pelas ruas da Cidade Dutra.

Quem são:

Somos um grupo de teatro da periferia de Interlagos, zona sul de São Paulo. Em busca de um fazer artístico justo com nossas aflições e reflexões!





SOCRASTICKER #64

Foi-se a Copa?

Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.

Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.

O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa da Liberdade.

- Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

MAFALDA N°508

POETISA VENDE LIVRETOS EM SINAIS DE TRÂNSITO E LOCAIS PÚBLICOS EM VARGINHA

Criadora da página 'Feminismo Poético', Grazi lança coleção de 'cordéis'. 
Com poesias próprias, autora se pauta no feminismo e na marginalidade.

Grazi monta varal de poesias na Estação Cultural de Varginha (MG). (Foto: Samantha Silva/ G1)

Quem circula por Varginha (MG) já deve ter visto a cena: um varal estendido em um local público – que pode ser uma praça, a antiga estação de trem, ou um sinal de trânsito – e vários livretos coloridos pendurados. O estilo ‘literatura de cordel’, cuja data é comemorada anualmente em 1º de agosto, é praticado pela poeta Graziele Eugênio Ladeira, de 28 anos, conhecida como Grazi, pelas ruas da cidade e desde que pediu demissão do emprego, há pouco menos de um mês, ela tenta sobreviver com a venda da própria escrita.

Com a tradição da arte que surge oralmente e depois ganha forma impressa e de maneira artesanal e em seguida exposta e pendurada em varais, com barbantes - daí o nome cordel - os livretos são vendidos a R$ 2 e todo material é feito pela própria autora em papel colorido. Ela mesma seleciona as poesias, cria a arte, corta os papéis, imprime, grampeia e sai às ruas para vendê-los. “Eu estou começando agora, mas estou disposta a encarar a vida com poesia, viver do que escrevo, do que sinto, da minha arte. Vou para o sinal de trânsito, para o calçadão, para os festivais. Onde tiver gente, quero levar cultura e beleza e quem sabe tentar sobreviver disso”, resumiu.

Livretos colocados em varais já foram levados para vários locais (Foto: Samantha Silva/ G1)

Considerada uma das mais ricas manifestações artísticas do Brasil,  o cordel de Grazi já chama a atenção de quem vive na região, como o rapper Rafael Raciocínio Tático, de Três Corações (MG). “Ela tem um trabalho sensacional, que destaca o verdadeiro papel da mulher, mostrando que elas são donas de si mesmas. Vejo as poesias e textos com uma pegada contestadora e firme, que chamaram minha atenção quando acessei a página ‘Feminismo Poético’. As ideias dela são bem parecidas com o que defendo na minha música”, comentou o músico, que conheceu Grazi durante uma edição da Batalha do Corre, em Três Corações.

“Ela trouxe algumas poesias para que distribuíssemos e depois nos encontramos também em Varginha, onde eu pude ver um varal bem grande, com poesias dela em folhas coloridas, o que nos chamou muita atenção. Em seguida, firmamos outras parcerias e seguidos. Desejo que ela tenha sucesso com o próprio trabalho, que incentiva a leitura aqui, ali e acolá, porque a poesia não tem hora e nem lugar”, acrescentou.



Poeta desde sempre

Desde a adolescência que Grazi dedica-se à poesia, que começou com o que chama de ‘poezines’, feitos à mão e trocados por carta. No entanto, ela não se lembra de qual foi a primeira composição literária.

“Escrevo desde pequena e não me lembro como e nem quando comecei. Minha mãe (já falecida), também escrevia antes de ficar doente e na minha memória sempre vem a cena de eu recitando os versinhos na escola”, comentou.

E de lá para cá, a poesia de Grazi amadureceu, mas guarda a essência feminista. “O feminismo é a base da minha escrita, mesmo quando sou romântica, erótica, neurótica, maluca ou sensata. Escrevo para me libertar e para libertar minhas irmãs”.


Poesia marginal na web e nos muros

Não é à toa que ela foi idealizadora de uma página batizada como ‘Feminismo Poético’ em uma rede social, que já tem quase 40 mil curtidas e também aproveita a plataforma para vender o trabalho. E por onde vai, em cidades da região como Três Pontas (MG) e Três Corações (MG), ela não perde tempo: estende os próprios escritos e busca os clientes ávidos por literatura, tratada por ela como “marginal”.

“Eu me sinto totalmente parte da cena marginal contemporânea, sempre me senti. Desde os poezines, passando pelos zines punk que eu produzia, pelos varais e saraus. Eu tenho como base da minha escrita a marginalidade mesmo. É uma cultura que nos chega inteira, que nos chega crua, sem passar pelo triturador da burguesia. Eu sinto e quero que a minha escrita continue à margem do machismo, do racismo, da homofobia, do desamor, para desconstruir, sabe? É isso que minha poesia quer”, disse.

Intensa e com vontade de dizer ao mundo o que pensa e sente, Grazi inova também e faz grafites em diferentes pontos de Varginha para levar a poesia também aos muros. Adepta da cultura hip-hop e também do punk, ela luta pela acessibilidade da literatura, que para a poeta, tem que ser despida de vaidade. “Eu não gosto da literatura burguesa, mastigada, destinada a poucos, sem preço acessível. Já trabalhei em livraria e já vi muita gente lançar livro por status. Isso não me agrada, tanto que sempre assino só ‘grazi’ nos meus poemas, com letra minúscula e sem sobrenome. Quero que as pessoas me leiam e se identifiquem. Quero tocar de alguma maneira e fazer alguma mudança através das minhas palavras e não por status”, destacou.


Sobre a literatura de cordel

Com temática livre, é impossível precisar a origem exata da literatura de cordel. Algumas versões apontam que ela surgiu dos povos bárbaros da Europa, outras dizem que veio da Península Ibérica, trazida ao Brasil pelos portugueses, mas o que se tem certeza é de que ela se difundiu no Nordeste brasileiro e com a efervescência da literatura marginal, alastrou-se por todos estados e regiões.

Alguns destaques podem ser dados a obras como as que versam sobre o cangaceiro Lampião e seu grupo e também a do personagem João Grilo, da obra de Ariano Suassuna, 'O Auto da Compadecida', que ganhou vida através dos versos cordelistas.

Grafites feitos pela poeta nos muros de Varginha são em alusão ao feminismo (Foto: Samantha Silva/ G1)

SOCRASTICKER #63

"Dê início a tudo o que você puder fazer, ou a tudo que você julgar que pode fazer. A audácia traz em si o talento, o poder e a magia." 

- Goethe

terça-feira, 12 de agosto de 2014

RAPPER INOVA AO DISTRIBUIR POESIA EM TUBOS DE DROGAS: ‘VÍCIO EM LEITURA’

Ideia surgiu da expressão 'traficar informação', muito usada no rap.
Pinos serão distribuídos durante Festival Literário de Votuporanga nesta 5ª.

Cápsulas comumente usadas para embalar drogas são recheadas de poesia (Foto: Marcio Salata)

A ideia é polêmica, mas desperta curiosidade. Batizada de “pinos poéticos”, o rapper e professor de geografia Renan Inquérito distribui, em invóluclos farmacêuticos, poesia. O conceito “vício em leitura” será atração desta quinta-feira (7), no Festival Literário de Votuporanga (Fliv) que recebe a “Parada Poética”, projeto conduzido por ele com o intuito de explorar e disseminar a leitura.

Parada Poética é um sarau onde se pode declamar poesias (Foto: Marcio Salata)

A "associação" com drogas - usada metaforicamente – funciona inclusive com as crianças. “Muitas infelizmente já tiveram contato com drogas, mas passam a associar o objeto com algo positivo, com poesia dentro, e não necessariamente como invólucro para drogas. Não vejo problemas em dá-los às crianças, muitas vezes distribuímos para bem pequenas e elas não fazem conexão”, comenta o rapper.

Autor do livro de poesias concretas #PoucasPalavras, o uso da hashtag no título do livro e no projeto das cápsulas é também uma forma de aproximar os leitores mais jovens da própria arte.  As poesias dos invóculos são do livro, lançado por ele em 2011 de maneira independente e que já está na 5ª edição. “O conteúdo traz fragmentos das minhas composições, porém exploradas de forma diferente do CD. No papel pude abusar dos recursos visuais e do concretismo, fazendo link com a internet e com o twitter, por exemplo”, conta Renan.

A Parada Poética é um sarau onde se pode declamar poesias e estreitar o relacionamento do público com a leitura. O objetivo é apresentar poesias e estimular a participação contribuição e construir coletivamente o espaço à leitura. “Me sinto honrado em poder disseminar a poesia em um país onde a maioria das pessoas infelizmente não tem o hábito da leitura, creio que o fato de ser cantor de rap ajudou bastante, sobretudo na aproximação do público mais jovem, que já conhecia minhas músicas”. A atividade acontecerá das 10h às 16h no Fliv.
O evento segue até dia 10, na Praça da Matriz. Mais de 100 mil pessoas são esperadas nos 10 dias de festival, que também tem shows na Concha Acústica “Professor Geraldo Alves Machado", que fica ao lado da Praça. A entrada de todas as atividades é gratuita. O evento é realizado em parceria com a TV TEM.

Poesias dos invóculos são de livro, lançado por Renan em 2011 (Foto: Marcio Salata)

Leia algumas das frases que fazem parte do conteúdo das cápsulas:

"Tempos Modernos: As pessoas só se falam por em@il, a convivência é um anexo que não veio".

"ForteMENTE: Uns usam Glock, outros usam Colt, outros Imbel. Eu? Calibre 0.7 Faber-Castell".

"A gente é que nem concreto sabia? Uns viram muro, outros viram ponte algum dia".

"Oferta e procura: Doença vende remédio, violência segurança, guerra vende arma, paz vende mais roupa branca".

"Videocassete: A vida passa como um filme que não tem pra alugar, só tua memória pode rebobinar".

"Saudade: palavra singular que dói no plural".

MAFALDA N°491

INTERVENÇÃO COM OS POETAS AMBULANTES @ AV. BELMIRA MARIN - GRAJAÚ - 16/06/14

Uma experiência incrível!

"Uma vez Poetas Ambulantes e nada será como antes."






SOBRE OS POETAS AMBULANTES

Poderíamos estar matando, poderíamos estar roubando, poderíamos estar ouvindo som alto (sem fone), poderíamos estar dormindo, babando no seu ombro, mas não, estamos aqui, humildemente invadindo seu dia, para recitar e distribuir poesia. Agradecemos a compreensão de todos, tenham um bom dia!

Nós, do coletivo Poetas Ambulantes, acreditamos que a poesia pode estar em todos os lugares. Por isso, realizamos intervenções poéticas com saraus e distribuição de poemas em ônibus, trens e metrô.


Descrição

Inspirando-se nos vendedores ambulantes que circulam dentro dos coletivos oferecendo suas mercadorias, os Poetas Ambulantes oferecem aos passageiros poesia falada e escrita, em troca apenas de atenção, emoção e interação.

A cada mês os Poetas traçam um itinerário diferente, percorrendo diversas linhas de ônibus, trens e metrô, declamando e entregando poemas de sua autoria ou escritos por autores consagrados.

Essas ações ocorrem em dias úteis, preferencialmente nos horários de maior movimento. No momento em que os passageiros estão mais cansados e estressados, a intervenção dos Poetas torna a viagem mais agradável e divertida. O destino final é sempre algum local onde habitualmente ocorrem saraus, dando continuidade ao dia de convivência com a poesia.

“Atenção senhores passageiros, eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando, mas estou aqui humildemente distribuindo poesias. Aqueles que puderem ouvir eu agradeço, aqueles que não puderem eu agradeço da mesma forma!” É assim que os Poetas Ambulantes dão início à intervenção dentro coletivos. Não há roda, ordem, ou roteiro pré-estabelecido. Espalhados entre os passageiros, os poetas vão disparando sua poesia, distribuindo poemas, divulgando sua arte. Em cada coletivo a ação é diferente, pois a energia do público influencia diretamente o desenvolvimento do sarau e a escolha dos poemas. Os passageiros são encorajados a aplaudir, interagir com os “ambulantes”, e até mesmo integrar o sarau. 





segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O QUE É SER POLITIZADO

Ser politizado é entender como funcionam as relações de poder em cada sociedade e no mundo em geral. É compreender que, por trás das relações de troca no mercado existem relações de exploração. Que, por trás das relações de voto, existem relações de dominação. Que, por trás das relações de informação, há um processo de alienação.

Ser politizado, no mundo de hoje, significa compreendê-Io no marco das relações capitalistas de acumulação e de exploração. Representa entender o mundo no marco da hegemonia imperial estadunidense, baseada na força militar e na propaganda do modo de vida estadunidense.

Ser politizado é compreender que tudo o que existe foi produzido historicamente, pelas relações entre os homens e o meio em que vivem. Ou melhor, entre os homens, intermediados pelo meio em que vivem. E que, portanto, tudo o que foi construído pelos homens pode ser desconstruído e reconstruído. Que tudo é histórico. Que a própria separação entre sujeito e objeto - que nos aparece como "dada" - é produzida e reproduzida cotidianamente mediante relações econômico-sociais alienadas.

Ser politizado é saber subordinar as contradições menores às estratégicas, saber que as contradições com o capitalismo são sempre também contra o imperialismo, pela fase histórica atual do capitalismo.

E o que é ser despolitizado:

Já ser despolitizado é achar que as coisas são como são porque são como são, sempre foram assim e sempre serão. É considerar que as pessoas sempre buscam tirar vantagens que não têm grandeza para lutar desinteressamente por um mundo melhor. Que o que diferencia as pessoas é a ambição de melhorar na vida, que a grande maioria não tem jeito mesmo.

Entre o ser politizado e o despolitizado está a alienação, a falta de consciência da relação entre nós e o mundo. Alienar é entregar o que é nosso para outro - como diz a definição jurídica em relação a bens. Ser alienado é não perceber a presença do sujeito no objeto e vice-versa, sua vinculação indissolúvel.

A luta pela emancipação humana é uma luta contra toda forma de exploração, de dominação, de discriminação, mas, antes de tudo e sobretudo, uma luta contra a alienação - condição de todas as outras lutas.

Emir Sader é Cientista Político

terça-feira, 5 de agosto de 2014

SOCRASTICKER #62

"Seja a mudança que você quer ver no mundo."

- Gandhi

26 POETAS HOJE - HELOISA BUARQUE DE HOLLANDA

26 Poetas Hoje é uma antologia de poemas de escritores da dita geração mimeógrafo brasileira da década de 1970, também chamada de "poesia marginal".

A obra foi organizada pela escritora e crítica literária Heloísa Buarque de Hollanda e publicada em 1975, pela editora Aeroplano.


LER POESIA É MAIS ÚTIL PARA O CÉREBRO QUE LIVROS DE AUTOAJUDA, DIZEM CIENTISTAS

Você já podia imaginar, mas agora está evidenciado cientificamente: ler poesia pode ser mais eficaz em tratamentos psicológicos do que livros de autoajuda. E mais: textos de escritores clássicos como Shakespeare, Fernando Pessoa, William Wordsworth e T.S. Eliot, mesmo quando de difícil compreensão, estimulam a atividade cerebral de modo muito mais profundo e duradouro do que textos mais simples e coloquiais.


Um texto já publicado pela agência EFE, mas que poderia ser revisto, afinal estamos comentando sobre a velha história da análise crítica sobre Literatura tida como de qualidade e a Literatura tida como de entretenimento, e mais, auto-ajuda: a leitura de obras clássicas estimula a atividade cerebral e ainda pode ajudar pessoas com problemas emocionais, diz estudo.

Ler autores clássicos, como Shakespeare, Fernando Pessoa, William Wordsworth e T.S. Eliot, estimula a mente e a poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool.

Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos e depois essas mesmas passagens traduzidas para a "linguagem coloquial".

Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico "Daily Telegraph", mostram que a atividade do cérebro "dispara" quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.

Esses estímulos se mantêm durante um tempo, potencializando a atenção do indivíduo, segundo o estudo, que utilizou textos de autores ingleses como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin.


Os especialistas descobriram que a poesia "é mais útil que os livros de autoajuda", já que afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva.

"A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças", explica o professor David, encarregado de apresentar o estudo.

Após o descobrimento, os especialistas buscam agora compreender como afetaram a atividade cerebral as contínuas revisões de alguns clássicos da literatura para adaptá-los à linguagem atual, caso das obras de Charles Dickens.

Publicado em literatura por Marcelo Vinicius

MAFALDA N°450

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

AARON SWARTZ, GUERRILHEIRO DA INTERNET LIVRE


Vida, morte e legado de um programador e ativista genial, que via no conhecimento compartilhado caminho para superar mesquinhez capitalista

Por Rafael A. F. Zanatta*, editor do blog E-mancipação

O (suposto) suicídio do gênio da programação e ativista Aaron Swartz não é somente uma tragédia, mas um sinal da enorme dimensão do conflito político e ideológico envolvendo defensores de uma Internet livre e emancipatória, de um lado, e grupos organizados dentro do sistema que pretendem privatizar e limitar o acesso à produção intelectual humana, de outro. Neste sábado (12/01), colunistas de cultura digital de diversos jornais escreveram sobre a morte do jovem Swartz, aos 26 anos, encontrado morto em um apartamento de Nova Iorque (ler os textos de John Schwartz, para o New York Times; Glenn Greenwald, para o The Guardian; Virginia Heffernan, para o Yahoo News; e Tatiana Mello Dias, para o Estadão). Diante da turbulenta vida do jovem Swartz e seu projeto político de luta pela socialização do conhecimento, difícil crer que o suicídio tenha motivações estritamente pessoais, como uma crise depressiva. A morte de Swartz pode significar um alarme para uma ameaça inédita ao projeto emancipatório da revolução informacional. O sistema jurídico está sendo moldado por grupos de interesse para limitação da liberdade de cidadãos engajados com a luta de uma Internet livre. Tais cidadãos são projetados midiaticamente como inimigos desestabilizadores da ordem (hackers). Os usuários da Internet, sedados e dominados pela nova indústria cultural, pouco sabem sobre o que, de fato, está acontecendo mundo afora.

A visão pública da Internet do wiz-kid Swartz: os anos de formação

Nascido em novembro de 1986 em Chicago, Aaron Swartz passou a infância e juventude estudando computação e programação por influência de seu pai, proprietário de uma companhia de software. Aos 13 anos de idade, foi vencedor do prêmio ArsDigita, uma competição para websites não-comerciais “úteis, educacionais e colaborativos”. Com a vitória no prêmio, Swartz visitou o Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde conheceu pesquisadores da área de Internet. Aos 14 anos, ingressou no grupo de trabalho de elaboração do versão 1.0 do Rich Site Summary (RSS), formato de publicação que permite que o usuário subscreva conteúdos de blogs e páginas (feeds), lendos-o através de computadores e celulares.

Aos 16 anos frequentou e abandonou a Universidade de Stanford, dedicando-se a fundação de novas companhias, como a Infogami. Aos 17 anos, Aaron ingressou na equipe do Creative Commons, participando de importantes debates sobre propriedade intelectual e licenças open-sources (ver a participação de Swartz em um debate de 2003). Em 2006, ingressou na equipe de programadores da Reddit, plataforma aberta que permite que membros votem em histórias e discussões importantes. No mesmo ano, tornou-se colaborador da Wikipedia e realizou pesquisas importantes sobre o modo de funcionamento da plataforma colaborativa (ler ‘Who Writes Wikipedia?‘). Em 2007, fundou a Jottit, ferramenta que permite a criação colaborativa de websites de forma extremamente simplificada (aqui). Em pouco tempo, Swartz tornou-se uma figura conhecida entre os programadores e grupos de financiamento dedicados a start-ups de tecnologia. Entretanto, sua inteligência e o brilhantismo pareciam não servir para empreendimentos capitalistas. Tornar-se rico não era seu objetivo, mas sim desenvolver ferramentas e instrumentos, através da linguagem de programação virtual, para aprofundar a experiência colaborativa e de cooperação da sociedade.

Aos 21 anos, Aaron ingressou em círculos acadêmicos (como o Harvard University’s Center for Ethics) e não-acadêmicos de discussão sobre as transformações sociais e econômicas provocadas pela Internet, tornando-se, aos poucos, uma figura pública e um expert no debate sobre a “sociedade em rede”. O vídeo abaixo, gravado em São Francisco em 2007, mostra o raciocínio rápido e preciso de Swartz sobre a arquitetura do poder na rede e as mudanças fundamentais da transição da mídia antes e depois da Internet.


Ativismo cívico e projetos políticos na rede: para além de empresas e lucros

A partir de 2008, Aaron Swartz – um “sociólogo aplicado“, como ele se autodenominava – engajou-se em uma série de projetos de cunho político, voltados ao ativismo cívico de base (grassroots) e ao compartilhamento de conteúdo on-line. Dentre eles, destacam-se três projetos específicos: (i) Watchdog, (ii) Open Library e (iii) Demand Progress.

O Watchdog é um website que permite a criação de petições públicas que possam circular on-line. Trata-se de um projeto não lucrativo, cujo mote é Win your campaign for change. O objetivo é fomentar a prática cidadã de monitoramento de condutas ilícitas, como se todos fossem “cães de guarda” da democracia. O segundo projeto, Open Library, pretende criar uma página da web para cada livro já publicado no mundo. O objetivo é criar uma espécie de “biblioteca universal” com bibliotecários voluntários, sendo possível o empréstimo on-line de e-books. Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, nos quais programadores são responsáveis pelo registro e criação das páginas (em códigos abertos) para todos os livros (como diz o site: “Open Library é um projeto aberto: software, dados e documentações são abertos, e sua contribuição é bem-vinda. Você pode corrigir um erro, acrescentar um livro ou escrever um widget [programa complementar]. Temos uma equipe de programadores fantástico, que avançaram muito, mas não podemos fazer tudo sozinhos!” (1) . O terceiro e mais interessante projeto é o Demand Progress, plataforma criada por Swartz para conquistar mudanças progressistas em políticas públicas (envolvendo liberdades civis, direitos civis e reformas governamentais) para pessoas comuns através do lobbying organizado de base. A atuação do DP se dá de duas formas: através de campanhas on-line para chamar atenção das pessoas e contatar líderes do Congresso, e através do trabalho de advocacia pública em Washington “nas decisões por trás das salas que afetam nossas vidas”.

Em 2008, indignado com a passividade dos cientistas com relação ao controle das informações por grandes corporações, Swartz publicou um manifesto intitulado Guerilla Open Access Manifesto (Manifesto da Guerrilha pelo Acesso Livre). Trata-se de um texto altamente revolucionário, que encerra-se com um chamado: “Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir à luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública. Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open Access. Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado” (cf. ‘Aaron Swartz e o manifesto da Guerrila Open Acess‘).

A força criadora do jovem Aaron Swartz residia em um profundo espírito crítico e questionador. Nesta entrevista abaixo (sobre o Progressive Change Campaign), Swartz explica como seu ativismo começou: “Eu sinto fortemente que não é suficiente simplesmente viver no mundo como ele é e fazer o que os adultos disseram o que você deve fazer, ou o que a sociedade diz o que você deve fazer. Eu acredito que você deve sempre estar questionando. Eu levo muito a sério essa atitude científica de que tudo que você aprende é provisório, tudo é aberto ao questionamento e à refutação. O mesmo se aplica à sociedade. Eu cresci e através de um lento processo percebi que o discurso de que nada pode ser mudado e que as coisas são naturalmente como são é falso. Elas não são naturais. As coisas podem ser mudadas. E mais importante: há coisas que são erradas e devem ser mudadas. Depois que eu percebi isso, não havia como voltar atrás. Eu não poderia me enganar e dizer ‘Ok, agora vou trabalhar para uma empresa’. Depois que percebi que havia problemas fundamentais os quais eu poderia enfrentar, eu não podia mais esquecer isso”. Nesta entrevista, Aaron (aos 22 anos), esclarece que livros como Understanding Power (de Noam Chomsky) foram fundamentais para compreender os problemas sistêmicos da sociedade contemporânea. Todavia, a situação não é imodificável. O primeiro passo é acreditar que é possível fazer algo.


A luta e a resposta do sistema: do movimento Anti-SOPA à batalha judicial do JSTOR

No final de 2010, Aaron Swartz identificou uma anomalia procedimental com relação a uma nova lei de copyright, proposta por integrantes dos partidos republicanos e democratas em setembro daquele ano. A lei havia sido introduzida com apoio majoritário, com um lapso de poucas semanas para votação. Obviamente, segundo o olhar crítico de Swartz, havia algo por trás desta lei. O objetivo camuflado era a censura da Internet.

A partir da união de três amigos, Swartz formulou uma petição on-line para chamar a atenção dos usuários da Internet e de grupos políticos dos Estados Unidos. Em dias, a petição ganhou 10 mil assinaturas. Em semanas, mais de 500 mil. Com a circulação da petição, os democratas adiaram a votação do projeto de lei para uma analise mais profunda do documento. Ao mesmo tempo, empresas da Internet como Reddit, Google e Tumblr iniciaram uma campanha maciça para conscientização sobre os efeitos da legislação (a lei autorizaria o “Departamento de Justiça dos Estados Unidos e os detentores de direitos autorais a obter ordens judiciais contra sites que estejam facilitando ou infringindo os direitos de autor ou cometendo outros delitos e estejam fora da jurisdição estadunidense. O procurador-geral dos Estados Unidos poderia também requerer que empresas estadunidenses parem de negociar com estes sites, incluindo pedidos para que mecanismos de busca retirem referências a eles e os domínios destes sites sejam filtrados para que sejam dados como não existentes”, como consta do Wikipedia).

Em outubro de 2011, o projeto foi reapresentado por Lamar Smith com o nome de Stop Online Piracy Act. Em janeiro de 2012, após um intenso debate promovido na rede, a mobilização de base entre ativistas chamou a atenção de diversas organizações, como Facebook, Twitter, Google, Zynga, 9GAG, entre outros. Em 18 de janeiro, a Wikipedia realizou um blecaute na versão anglófona, simulando como seria se o website fosse retirado do ar (cf. ‘Quem apagou as luzes em protesto à SOPA?‘ e ‘O apagão da Wikipedia‘). A reação no Congresso foi imediata e culminou na suspensão do projeto de lei. Vitória do novo ativismo cívico? Para Swartz, sim. Uma vitória inédita que mostrou a força da população e da mobilização possível na Internet. Mas não por muito tempo. Em um discurso feito em maio de 2012 — que merece ser visto com muita atenção –, Aaron foi claro: o projeto de lei para controlar a Internet irá voltar, com outro nome e outro formato, mas irá voltar…


Mas não foi somente através da liderança no movimento de peticionamento on-line que culminou nos protestos contra o SOPA que Swartz chamou a atenção das autoridades estadunidenses. Em 2008, ele foi investigado pelo FBI por ter baixado milhões de documentos públicos do Judiciário mantidos pela empresa Pacer (que cobra pelo acesso a documentos públicos!). A investigação, entretanto, não resultou em processo criminal ou civil.

O processo kafkiano que pode estar relacionado com a morte de Swartz teve início em julho de 2011, quando o ativista foi processado por “fraude eletrônica, fraude de computador, de obtenção ilegal de informações a partir de um computador protegido”, a partir de uma acusação da companhia JSTOR - uma das maiores organizações de compilação e acesso pago a artigos científicos. Aaron programara um dos computadores públicos do Massachussets Institute of Technology (MIT) para acessar o banco de dados da JSTOR e fazer download de artigos científicos de diversas áreas do conhecimento. Em poucos dias, baixou mais de 4 milhões de artigos científicos (e não se sabe qual era seu plano inicial, ou seja, de que modo ele pretendia publicar esses documentos de acordo com a tese do open acess movement). Pelo fato de Swartz ter feito o download de muitos documentos ao mesmo tempo (mas o acesso pelo computador da instituição não permite isso?), foi processado por fraude eletrônica e obtenção ilegal de informações.

O sentido de um processo kafkiano (referente ao Processo da obra literária de Franz Kafka) deve ser melhor explicado. A questão é que Aaron Swartz não cometeu, a princípio, nenhum ato ilícito (ele poderia fazer o download de artigos científicos como qualquer acadêmico logado a uma máquina com acesso ao JSTOR pode). E mesmo depois de acusado, entregou-se à Justiça e afirmou que não tinha intenção de lucrar com o ato. Diante do aviso de que a distribuição dos arquivos infringiria leis nacionais, Aaron devolveu os arquivos digitalizados para a JSTOR, que retirou a ação judicial de caráter civil. Ou seja: caso encerrado, correto?

Errado. Após o acordo entre Aaron e a JSTOR, a Promotoria de Justiça de Boston, através da US Attorney Carmen Ortiz, indiciou Aaron Swartz por diversas ofensas criminais, pedindo a condenação do ativista em 35 anos de prisão (sic!) e o pagamento de 1 bilhão de dólares de multa. O processo penal teve início, sendo oferecida a Swartz a oportunidade de fazer um acordo penal que reconhecesse sua culpa (plead guilty). Irredutivelmente — mesmo sendo aconselhado por alguns advogados a agir em sentido contrário –, Swartz recusou-se a declarar-se culpado, por não considerar seus atos como ilícitos. Mesmo com a intervenção da JSTOR, que reconheceu não se sentir prejudicada pelos atos de Swartz, a Promotoria continuou a amedrontá-lo. O processo penal — extremamente custoso nos Estados Unidos — esvaziou suas poucas reservas financeiras e gerou um enorme trauma psicológico. O julgamento da ação penal estava marcado para abril de 2013 e Aaron Swartz recusava-se a comentar o assunto em entrevistas, palestras e eventos. Alguns especulam que o suicídio está ligado com o processo penal, considerado por muitos como uma resposta do governo dos Estados Unidos contra o ativismo libertário de Aaron. Na opinião de Greenwald, o colunista do Guardian, ele “foi destruído por um sistema de ‘justiça’ que dá proteção integral aos criminosos mais ilustres — desde que sejam integrantes dos grupos mais poderosos do país, ou úteis para estes –, mas que pune sem piedade e com dureza incomparável que não tem poder e, em especial, quem desafia o poder”. (2)

Até o momento, não há cartas ou posts de Swartz sobre o assunto. Não há, aliás, confirmação concreta de que houve suicídio (ou se foi uma morte herzogiana, comum na história brasileira). Trata-se de um grande mistério. Para a família de Swartz, uma coisa é clara: se houve suicídio, o bullying judicial realizado pelo Judiciário estadunidense foi um fator que levou o jovem ativista a encerrar a própria vida, em um sinal de protesto contra todo o injusto sistema.

As lições de um jovem revolucionário

Há muito o que extrair das falas, dos textos e das ações do gênio da informática Aaron Swartz. Ativista político, sociólogo aplicado, defensor da Internet livre, criador de mecanismos de compartilhamento de dados e crítico da forma como a sociedade global está se estruturando contra as liberdades básicas, Swartz deixa aos jovens da era da Internet um forte recado revolucionário: a mudança começa em cada um. Todo indivíduo possui autonomia para pensar e contestar o que está posto. Além de contestar, a ação colaborativa pode modificar as instituições existentes em uma perspectiva pós-capitalista. O conhecimento pode ser compartilhado, softwares podem ser desenvolvidos em conjunto e projetos podem ser executados com o financiamento coletivo.

Informação é poder. Swartz enxergou muito além do que seus contemporâneos e tentou mobilizar os usuários de Internet para construção de um outro mundo. Infelizmente, não foi apoiado da forma como precisava. A reverberação de suas ideias e suas ações ainda é muito fraca. Mas isso não é motivo para desistência. A brevíssima vida deste jovem estadunidense pode inspirar corações e mentes. Em tempos de discussão no Brasil sobre o Marco Civil da Internet, corrupção da política e agigantamento do Judicário, o resgate a seu pensamento é necessário. Ainda mais em um país que conta com mais de 80 milhões de usuários de Internet. A questão é saber se as pessoas terão curiosidade e interesse em compreender o projeto de vida de Swartz ou se irão continuar lendo matérias produzidas por corporações interessadas na limitação da liberdade na Internet.

Eu fico com o projeto de Swartz. Aliás, fique livre para copiar esse texto.


*Rafael A. F. Zanatta, mestrando em sociologia jurídica (FD/USP), pesquisador (Direito GV), professor universitário e advogado. Editor do blog E-mancipação.

(1) Open Library is an open project: the software is open, the data are open, the documentation is open, and we welcome your contribution. Whether you fix a typo, add a book, or write a widget–it’s all welcome. We have a small team of fantastic programmers who have accomplished a lot, but we can’t do it alone!”

(2) “Swartz was destroyed by a “justice” system that fully protects the most egregious criminals as long as they are members of or useful to the nation’s most powerful factions, but punishes with incomparable mercilessness and harshness those who lack power and, most of all, those who challenge power“

SOCRASTICKER #61

"Um homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas a sua ideia pode modificar o mundo mesmo tendo passado 400 anos."

MAFALDA N°481