terça-feira, 20 de março de 2018

INSPIRAÇÃO EM CADA CÔMODO

Decidi colocar em alguns cômodos da casa uma obra de alguém que me inspira. No escritório, tenho "A morte de Sócrates", de Jacques-Louis David. Na cozinha, coloquei "A Última Ceia", de Da Vinci. Quem o conhece sabe que esta foi uma das pinturas que ele mais trabalhou durante sua vida. Fico viajando enquanto tomo café da manhã.

Para muitas pessoas, podem ser meros pedaços de papel pregados na parede, mas, para mim, carregam uma arte de valor inestimável.

domingo, 18 de março de 2018

COMO VEJO O MUNDO - ALBERT EINSTEIN

Alguns excertos desta obra inspiradora, que foi a minha segunda leitura do ano:

"Em compensação, fora ideias que suscitaram meus esforços e me permitiram viver. Chamam-se o bem, a beleza, a verdade. Se não me identifico com outras sensibilidades semelhantes à minha e se não me obstino incansavelmente em perseguir este ideal eternamente inacessível na arte e na ciência, a vida perde todo o sentido para mim. Ora, a humanidade se apaixona por finalidades irrisórias que têm por nome a riqueza, a glória, o luxo. Desde moço já as desprezava."

"O mistério da vida me causa a mais forte emoção. É o sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação ou não pode mais experimentar o espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram."

"A falta de pessoas de gênio nota-se tragicamente no mundo estético. Pintura e música degeneram e os homens são menos sensíveis. Os chefes políticos não existem e os cidadãos fazem pouco caso de sua independência intelectual e da necessidade de um direito moral. As organizações comunitárias democráticas e parlamentares, privadas dos fundamentos de valor, estão decadentes em numerosos países. Então aparecem as ditaduras. São toleradas porque o respeito da pessoa e o senso social estão agonizantes ou já mortos."

"Mas, fazer desaparecer obstáculos não conduz automaticamente ao progresso moral da existência social e individual. Esta ação negativa exige, além disso, uma vontade positiva para a organização moral da vida coletiva. Esta dupla ação, de extrema importância, arrancar as más raízes e implantar a nova moral, constituirá a vida social da humanidade."

"Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque ele se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que ele adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus próximos e à comunidade.

Essas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contatos vivos com os professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais. É assim que se expressa e se forma de início toda a cultura. Quando aconselho com ardor ‘as humanidades’, quero recomendar esta cultura viva, e não um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia.

Os excessos do sistema de competição e especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia, assassinaram o espírito, impossibilitaram qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o recebe o recolha como dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa."

"É tarefa essencial do professor despertar a alegria de trabalhar e de conhecer. Caros meninos, como estou feliz por vê-los hoje diante de mim, juventude alegre de um país ensolarado e fecundo.

Pensem que todas as maravilhas, objetos de seus estudos, são a obra de muitas gerações, uma obra coletiva que exige de todos um esforço entusiasta e um labor difícil e impreterível. Tudo isto, nas mãos de vocês, se torna uma herança. Vocês a recebem, respeitam-na, aumentam-na e, mais tarde, irão transmiti-la fielmente à sua descendência. Deste modo somos mortais imortais, porque criamos juntos obras que nos sobrevivem.

Se refletirem seriamente sobre isto, encontrarão um sentido para a vida e para seu progresso. E o julgamento que fizerem sobre os outros homens e as outras épocas será mais verdadeiro."

"Ver com os próprios olhos, sentir e julgar sem sucumbir à fascinação da moda, poder dizer o que se viu, o que se sentiu, com um estilo preciso ou por uma expressão artisticamente modelada, que maravilha. Será preciso ainda felicitá-lo?"

"Neste gênero de conferências, o sucesso não depende da inteligência ou da perícia, mas da honestidade e da confiança. O valor moral não pode ser substituído pelo valor da inteligência e eu acrescentaria: graças a Deus!

O ser humano não pode se contentar com esperar e criticar. Deve lutar por esta causa, tanto quanto puder. O destino da humanidade será o que prepararmos."

"Se há alguma razão para impelir um leigo em questões econômicas a dar corajosamente sua opinião sobre o caráter das dificuldades econômicas angustiantes de nossa época, é certamente a confusão desesperadora dos diagnósticos estabelecidos pelos especialistas. Minha reflexão não é original e apenas representa a convicção de um homem independente e honesto sem preconceitos nacionalistas e sem reflexos de classe que deseja ardente e exclusivamente o bem da humanidade, numa organização mais harmoniosa da existência humana. Escrevo como se estivesse seguro da verdade de minhas afirmações, mas o escrevo simplesmente como a forma mais cômoda da expressão e não como testemunho de excessiva confiança em mim mesmo; ou como convicção da infalibilidade de minhas simples concepções sobre problemas de fato terrivelmente complexos."

"A natureza da concepção judaica da vida se traduz assim: direito à vida para todas as criaturas. A significação da vida do indivíduo consiste em tornar a existência de todos mais bela e mais digna. A vida é sagrada, representa o supremo valor a que se ligam todos os outros valores. A sacralização da vida supra-individual incita a respeitar tudo quanto é espiritual aspecto particularmente significativo da tradição judaica.

O judaísmo não é uma fé. O Deus judeu significa a recusa da superstição e a substituição imaginária para este desaparecimento. Mas é igualmente a tentação de fundar a lei moral sobre o temor, atitude deplorável e ilusória. Creio, no entanto, que a possante tradição moral do povo judeu já se libertou amplamente deste temor. Compreende-se claramente que servir a Deus equivale a servir à vida. Com esta finalidade, as melhores testemunhas do povo judeu, em particular os profetas e Jesus, se bateram incansavelmente.

O judaísmo não é uma religião transcendente. Ocupa-se unicamente da vida que se leva, carnal por assim dizer, e de nada mais. Julgo problemático que possa ser considerado como religião no sentido habitual do termo, tanto mais que não se exige do judeu nenhuma crença, mas antes o respeito pela vida no sentido supra pessoal.

Existe enfim outro valor na tradição judaica, que se revela de modo magnífico em numerosos salmos. Uma espécie de alegria embriagadora, um maravilhar-se diante da beleza e da majestade do mundo exalta o indivíduo, mesmo que o espírito não consiga conceber sua evidência. Este sentimento, onde a verdadeira pesquisa vem haurir sua energia espiritual, lembra o júbilo expresso pelo canto dos pássaros diante do espetáculo da natureza. Aqui se manifesta uma espécie de semelhança com a ideia de Deus, um balbuciar de criança diante da vida.

Tudo isto caracteriza o judaísmo e não se encontra em outra parte sob outros nomes. Com efeito, Deus não existe para o judaísmo, onde o respeito excessivo pela letra esconde a doutrina pura. Contudo considero o judaísmo como um dos simbolismos mais puros e mais vivos da ideia de Deus, sobretudo porque recomenda o princípio do respeito à vida."

"A alegria de contemplar e de compreender, eis a linguagem a que a natureza me incita."

"Contudo, em primeiro lugar, com Schopenhauer, imagino que uma das mais fortes motivações para uma obra artística ou científica consiste na vontade de evasão do cotidiano com seu cruel rigor e monotonia desesperadora, na necessidade de escapar das cadeias dos desejos pessoais eternamente instáveis. Causas que impelem os seres sensíveis a se libertarem da existência pessoal, para procurar o universo da contemplação e da compreensão objetivas. Esta motivação assemelha-se à nostalgia que atrai o morador das cidades para longe de seu ambiente ruidoso e complicado, para as pacíficas paisagens das altas montanhas, onde o olhar vagueia por uma atmosfera calma e pura e se perde em perspectivas repousantes, que parecem ter sido criadas para a eternidade."


quarta-feira, 14 de março de 2018

MORRE STEPHEN HAWKING

Assim como Carl Sagan, Stephen Hawking foi uma grande inspiração para as pessoas buscarem entender as leis que regem nosso universo. Só tenho a agradecer pelo conhecimento legado.

"Ele se foi. Conseguiu viver décadas com uma doença devastadora. Manteve-se produtivo até o fim. O pouco que consigo entender sobre o tempo veio dos livros de divulgação de Stephen Hawking (1942-2018). Foi um homem impressionante pela genialidade e pela força de vida. Galileu negociou com a Inquisicão; Einstein foi pressionado pelo nazismo e Hawking se enfrentou e venceu. Somos feitos da mesma matéria dos nossos sonhos, dizia o duque Próspero de Shakespeare. Nem o corpo paralisado acaba com a mente sonhadora. Missão cumprida, Stephen. Parabéns!"

- Leandro Karnal