quinta-feira, 5 de maio de 2016

ESTUDOS SOBRE POESIA CONCRETA-VISUAL-EXPERIMENTAL

Acho que comecei a criar meus primeiros poemas concretos em meados de 2013, sendo que o primeiro deles, AO PÉ DA LETRA, foi criado quando eu nem sabia do que se tratava essa tal de poesia concreta. Foi por conta de um comentário na imagem que me interessei e pesquisei mais sobre o assunto.

No ano de 2015, estudei profundamente a história e evolução do movimento concretista no mundo, desde os primeiros caligramas que datam de antes do nascimento de Cristo até os movimentos mais recentes, como o neoconcretismo. Comprei e li livros, pesquisei artigos, notícias, assisti vídeos, documentários, entrevistas etc. E, paralelo a isto, fui me desenvolvendo e experimentando diversos recursos para a criação dos meus poemas. Até alguns com métrica clássica (haicai), consegui transformar em poesia concreta. Foi um período muito produtivo. Tanto que boa parte destes poemas integrará o meu próximo livro, A LER VAZIOS.

E, visto que existem diversas vertentes no que se refere a poesia experimental, durante meus estudos, decidi anotar alguns conceitos que julguei serem mais importantes, a fim de introduzir as pessoas a este tipo de arte poética. Espero que eles sejam informativos e esclarecedores.


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"Em virtude da postura aguerrida que os movimentos de vanguarda tiveram que adotar para fixar suas ideias, ficou a impressão de que afirmar a validade da poesia concreta e visual é negar a continuidade da poesia em verso. Para o professor Philadelpho Menezes, o fato de experimentarem novas possibilidades estéticas, na poesia e nas artes em geral, não significa que as formas clássicas de expressão serão abandonadas. Elas se reciclam, se renovam no contato com as formas mais experimentais e passam a conviver com estas, muitas vezes num mesmo ambiente, num mesmo livro. E servem, frequentemente, como realimento para outros saltos experimentais."

"Sem dúvida, o diálogo e o debate da poesia concreta e visual é com a poesia, inicialmente entendida como arte da palavra. Existem exemplos de poemas visuais sem palavras, feitos só de imagens, mas isso não quer dizer tais poemas, por não terem palavras, são destituídos de significado. A poesia concreta e visual passou anos lutando para mostrar ideia de que poesia é forma, mesmo a versificada. Para o professor Philadelpho Menezes, é hora de pensar a contramão da história e afirmar que, sendo agora evidente que poesia é forma, é preciso recuperar a riqueza de significados e dizer, como o poeta Ezra Pound, que ela é forma carregada de significado ao último grau."

"... o termo "poesia visual" é mais específico: refere-se a um fenômeno poético do século XX, em que o cruzamento das linguagens é decorrência direta do panorama visual das grandes cidades e dos meios de comunicação de massa."

- Philadelpho Menezes


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Caligrama = ideograma + caligrafia (símbolos gráficos que representam unidades de sentido).

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Pinacograma = otra forma de expresión muy parecida al caligrama es el pinacograma y consiste en dibujar el rosto de una persona con los caracteres tipográficos que componen su nombre.

(Obs.: Foi criado pelo físico-teórico Gilles Esposito-Farèse)
  

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O Caligrama desfeito - por Michel Foucault

“... ao se aproximar na relação entre ambos, Foucault arrisca expor sua mecânica interna, classificando-a em determinado momento, como um caligrama - recurso expressivo que teria a seu ver “um tríplice papel: compensar o alfabeto; repetir sem o recurso da retórica; prender as coisas numa armadilha de uma dupla grafia (...) (se servindo) dessa propriedade das letras consiste em valer, ao mesmo tempo, como elementos lineares que se pode dispor no espaço e como sinais que se deve desenrolar segundo o encadeamento único da substância sonora. Sinal, a letra permite fixar as palavras; linha, ela permite figurar a coisa. Assim, o caligrama pretende apagar ludicamente, as mais velhas oposições de nossa civilização alfabética; reproduzir e articular; imitar e significar; olhar e ler. Acuando duas vezes a coisa de que fala, lhe prepara a mais perfeita armadilha. Por sua dupla entrada, garante essa captura, da qual não são capazes o discurso por si ou o puro desenho.

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Símias de Rodes (300 a.C.) foi o precursor dos caligramas.

O ovo

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O papel de Guillaume Apollinaire nas vanguardas europeias - Silvana Vieira da Silva 

“Por meio de caligramas, Apollinaire busca uma outra forma de correspondência, empregando aí palavras como um instrumento de expressão poética, porém, utilizando-as como se elas pertencessem ao universo plástico e não linguístico.”

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Apollinaire e Mallarmé são evocados como patronos das vanguardas modernas.

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“Caligrama é um tipo de poema visual nomeado e popularizado nos primórdios das vanguardas históricas do século XX, que se expressa através de uma original disposição gráfica do texto escrito, formando uma espécie de pictograma e representando um símbolo, objeto real ou figura que é a própria imagem principal do poema. Em linguística, a partir do estudo desse tipo de poema e outros tipos de poesia visual, passou-se a usar o termo para defini um texto cuja “forma” pretende representar algo ou, pelo menos, ter com ela alguma relação analógica, funcionando seu design como complemento ao sentido.”

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Apollinaire, Caligramas - Edición de J. Ignacio Velazquez

Modos y forma de lectura del caligrama:

A - Lectura en espiral y lectura aleatoria entre versos pares e impares, o primer verso con último.

B - Lectura correlativa: de arriba hacia abajo o de abajo hacia arriba.

C - Lectura versolibrista: la palabra en libertad “¿Dónde está el primer verso?”

D - Caso especial: no existen versos, las palabras crean el contorno de la figura y su lectura es lineal.

Un Coup de Dés Jamais N'Abolira le Hasard - Mallarmé


¿Qué podemos concluir sobre forma v/s texto en un caligrama después de éste análisis?

1 - Muchos caligramas usan el texto como “excusa” para crear la forma que el autor en su mente quiere componer. Así, la forma pasa a ser lo mas importante de la obra, donde el texto muchas veces no tiene relación con la figura haciendo que el impacto visual sobrepase al literarios.

2 - Cuando la figura y el texto nos hablan tanto el uno sobre el otro, el equilibrio entre signo y literatura hace a la obra mas completa, pues se acerca mas a las bases teóricas creadas por los griegos cuando idearon los caligramas.
Si el impacto visual es tan grande al ver la figura como lo es el literario al leer los versos, se nos hace mas fuerte la tautología de la obra y la consideramos mas elaborada por su nivel de conexión.

3 - La preponderancia que tenga lo textual o lo visual de un caligrama no es invariable. La importancia que el texto e el signo tengan para el lector se verá influenciado por la lengua en que el caligrama esté escrito, así, un caligrama griego tenderá un valor mas visual que textual, y por el contrario, un caligrama en nuestro idioma, tiene la posibilidad de que, si su texto es importante para el mensaje visual, nivelar lo visual con lo textual. Finalmente, si un caligrama en el idioma usa el texto como pretexto para formar una imagen que no tiene relación con él, también estaría valiendo mas su imagen al ser lo primero que, como lectores, vemos e interpretamos.

4 - Algunos caligramas hablan por sí solos o nos generan, al enfrentamos con el texto, una serie de historias e conceptos que van ligados al símbolo representado. Esto hace que lo visual hable mas que lo textual y le da al caligrama mayor nivel en ese aspecto. Muchas veces, en la simpleza de la forma radican mas historias que en sus versos, los que son, en estos casos, un apoyo a la figura.

5 - Lo muy abstracto en un caligrama, tanto en forma como en texto, tiende a confundir al lector que no sabe a qué parte darle la preponderancia. Una imagen que nos hable de algo por sí misma y un texto que no comprendamos tiende a dejar al lector con una sensación de frustración al no poder darle algún tipo de sentido a la obra.
Se deben evitar los excesos y mantener siempre claro que ante todo, un caligrama, al ser una obra escrita, es un transmisor de mensaje, ya sea visual o textual.

6 - Cuando el signo no es totalmente claro de definir y puede ser interpretado como diversas formas, el texto debe ser aclaratorio de la figura. Así, el lector podrá reordenar mentalmente la forma y darle la conexión con el texto. Si una figura no es clara, y el texto tampoco, se cae en lo sucedido en el punto 5.

Como conclusión final y que pueda ser una frase que se tome como norma ante la duda de ¿qué es lo que mas importa en un caligrama? podemos, después de lo desarrollado decir:

“El valor visual o textual que tenga un caligrama dependerá de quien lo mire, mas allá de la intención primitiva de autor. Al minuto en que un caligrama sale de la imprenta y se propaga, deja de ser lo que o autor quiere que sea, y se convierte en lo que cada persona quiere que sea, basados en su idiosincrasia. Un caligrama adapta su significado según la época en que sea visto o leído ya que nos es una obra invariable.”

Apollinaire

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Concrete Poetry in Digital Media: Its Predecessors, its Presence and its Future - Roberto Simanowski

“The philosophy behind this playing with form, behind this shift towards typography, is to free the word from its pure representational, designational function. While in literature the physicality of language - such as its graphical aspects normally is neglected and even considered to poison the authority of the text, here the visual form of the word was used as an additional meaning. The word not only represents an object it represents it on the visual level. The goblet is to be seen before one even, starts to read.”

“... concrete poetry deals with the relation between the visible form and the intellectual substance of words. It is visual not because it would apply images but because it adds the optical gesture of the word to its semantic meaning - as completion, expansion, or negation. The intermedial aspect does not lie in the change of perspection, from the semiotic system of reading typical for literature to the semiotic system of viewing typical for art."

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Reading Space in Visual Poetry: New cognitive perspectives

“... in 1897, when the French Symbolist poet Stéphane Mallarmé published his influential poem Un Coup de dés jamais n’abolira le hasard. The poem appeared in the French journal Cosmopolis, and was preceded by a preface in which Mallarmé explicitly directs the reader towards an awareness not only of the spaces between words, but of the entire space of the printed page. ‘Les “blancs”, en effet, assume l’importance, frappent d’abord’, Mallarmé states [‘the “blanks” take on importance, and are what is the most immediately striking’]. In his manifesto-like preface, then, Mallarmé puts forth a counter-intuitive claim, challenging the notion that the black type reigns supreme.”

“By problematizing the conception of the physical surface of the page as merely a neutral setting for the text, Mallarmé subverts established notions of background and foreground. His revolutionary deployment of the page space opens up new avenues for poetic expression: he turns spatial values, such as the topographical position of words and their distance to other words or word groups, into a signifying force in their own right. Moreover, he also dramatizes typographical design by equipping words with distinctive visual features, deploying a wide variety of different typefaces and sizes, ranging from large, bold upper case characters to thin, small, italicized ones. Topographical and typographical values thus become additional expressive tools, and readers of Un Coup de dés have to take these visual factors into account when interpreting the textual meanings.”

“In their famous ‘Pilot Plan for Concrete Poetry’ from 1958, the Noigandres poets formulate their own conception of poetic space and the new reception patterns they hope to stimulate in their readers. ‘Concrete poetry’, they state, ‘begins by being aware of graphic space as structural agent [...] proportioning new spatio-temporal modes of apprehension of the text by the reader’. With the concrete poem, the Noigandres poets maintain, the phenomenon of meta-communication occurs, the simultaneous apprehension of different codes and sign systems, and the ‘coincidence and simultaneity of verbal and nonverbal communication’. This new form of visual poetry, they write, ‘deals with a communication of forms, of a structure-content, not with the usual message communication’.”

“... when participants encounter linguistic signs that are arranged in pictorial but ordered fashion, the primary instinct is still to adopt a classical reading approach. Only if that is not possible, or not informative, do they opt for a more varied scanning approach.”

“... The systematic generation of cognitive rupture by disrupting habitual responses to poetry is a key aim of many avant-garde writers, and our data shows that when readers are confronted with non-mimetic and non-linear visual poetry, an oscillation between linear decoding and spatial scanning occurred. Visual poems thus create confusion on numerous levels: about the relationship between figure and ground, about genre affiliations, about reading/viewing modes, and about the relationships of the linguistic parts to each other.”

“Mimetic poems like Apollinaire’s ‘The Tie and the Watch’ and Alan Riddell’s ‘The Honey Pot’ were the most popular ones. As early as in the 4th century B.C., Aristotle already suggested in his Poetics that human beings respond to likeness with pleasure, meaning that mimesis and recognition elicit positive responses. Similarly, he diagnoses an epistemophilic drive in humans, asserting that they derive pleasure from the act of understanding (that is, cognition and problem-solving). Both the acts of recognition and cognition, Aristotle posits, are pleasure-inducing mental processes. This applies to visual poems, too, but they operate on a very fine line between a complexity that can be experienced as threatening and a simplicity that can be experienced as predictable or banal.”

 Alan Riddell’s ‘The Honey Pot’

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The International Concrete Poetry Movement - Marjorie Perloff (Stanford University)

“Concrete poetry is founded upon the contemporary scientific-technical view of the world and will come into its own in the synthetic-rationalistic world of tomorrow. If concrete poetry is still considered strange (aesthetically) meagre or overly - simplified) this is probably due to a lack of insight into the new directions in which our society is developing in thought and action which in essence contain a new total view of the world.”

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The Materiality of Cognition - Concrete Poetry and the Embodied Mind - Mike Borkent

“Concrete poetry is often multimodal and uses both visual and verbal cues to construct meaning; the poems employ the materiality of both the page and language through manipulations and evocations of space, arrangement, typography, artistry, generic conventions, and spelling. Therefore, this poetic style constructs meaning through emphasizing the often ignored visuality of words and the page.”

“Cognitive poetics offers a way of engaging with both the textual and non-textual expressions of these societal shifts, which can in turn inform much of our analysis of how images and texts interact with our historical, cultural, social, and physical realities.”

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The Noigandres Poets and Concrete Art - Claus Clüver (Indiana University)

“The three Noigandres poets from São Paulo, Décio Pignatari and Haroldo and Augusto de Campos, were joined by three “Cariocas”, Wlademir Dias Pino, Ferreira Gullar, and Ronaldo Azeredo. Not long after, the artists and poets from Rio decided to break with the Paulistas for ideological reasons and declared themselves to be “Neoconcretos”, except for Ronaldo Azeredo who had already joined the Noigandres group (and was followed a little later by another Carioca, José Lino Grünewald).”

“Art represents the qualitative moments of sensibility raised to thought, a “thought in images”. [...] The universality of art is the universality of the object. [...] Art is different from pure thought because it is material, and from ordinary things because it is thought. [...] Art is not expression but product. [...] Spatial two-dimensional painting reached its peak with Malevich and Mondrian. Now there appears a new dimension: time. Time as movement. Representation transcends the plane, but it is not perspective, it is movement. (Cordeiro, 1956)”

“... The insistence of the Noigandres poets on listing in the “Pilot Plan” not only Mallarmé, Pound, Joyce, Cummings, and Apollinaire as well as the Brazilian poets Oswald de Andrade and João Cabral de Melo Neto as “precursors”...”


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“I define concrete poems as those in which only letters and/or words are utilized to form a visual image. Whereas visual poems constitute those in which images are integrated into the text of the poem.”

- Dr. Marvin A. Sackner

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Reading Space in Visual Poetry - Bob Cobbing

“a silent tongue sounding
an eye scanning
does a blank page not have a duration
is it silence or noise
we tongue it with our eyes
polyphonic skin of events
on the pool of meaning making”

“Gone is the word as the word, though the word may still be used as sound or shape.”

“Poetry now resides in other elements.”

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The Last Vispo Anthology: Visual Poetry (1998 - 2008)

“In the manual, letters lose their chemical word attraction, their ability to bond to one another, to cohere into words, and they begin to perform mutated experiments on each other and themselves. In the manual, letters are not monogamous - they do not belong to any particular word, but are free to roam and explore themselves. They form new molecular space.”

“A letter has no beginning and no end.”

“The keyboard is a house of letters.”

“Words make a prison for letters.”

“Reading a visual poem takes a minimum of three steps (pour over the following essays for additional ways of making meaning from visual poems): 1) Read the entire page/space at once. The visual poem is designed to first be read completely (unlike most poems on the page chained to left to right, top to bottom regimens). 2) Read the parts of the whole. Consider their position on the page/in space, their relationship/s to other parts. Much that happens in a visual poem happens here. 3) Read the full poem again at the same time reading its elements as they combine and re-combine to create the whole.”


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Características principais do concretismo:

- Elaboração artística em busca da forma mais precisa.
- Ênfase na racionalidade, no raciocínio e na ciência.
- Uso de figuras abstratas nas artes plásticas.
- União entre forma e o conteúdo na obra de arte.
- Na Literatura, os poetas concretistas buscavam efeitos gráficos, aproximando a poesia da linguagem do design.
- Envolvimento com temas sociais (a partir de 60).

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POESIA CONCRETISTA (Uma Análise Verbo-voco-visual da Literatura) - Thiago Camejo

“A poesia concreta tem como particularidade a subversão da poesia como resultado apenas da palavra escrita, utilizando, portanto, como parte de sua construção subjetiva o elemento visual: na disposição das letras, na união entre texto e imagem para sua completa significação (como nas histórias em quadrinhos) e nos jogos de palavras que se apoiam em recursos nem sempre só visuais, como as aliterações (repetição do mesmo som consonantal) e as assonâncias (repetição do mesmo som vocálico).”

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Manifesto Neoconcreto

“A expressão neoconcreto é uma tomada de posição em face da arte não-figurativa “geométrica” (neoplasticismo, construtivismo, suprematismo, Escola de Ulm) e particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista. Trabalhando no campo da pintura, escultura, gravura e literatura...”

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Neoconcretismo: manifesto e práxis - Luisa Günther Rosa

“O Manifesto Neoconcreto, documento que marca a especificidade existente entre dois coletivos de artistas não-figurativos brasileiros da década de 1950: o Grupo Ruptura e o Grupo Frente. A argumentação buscou considerar a recorrente dicotomia postulada entre arte pura vs. arte expressiva; vanguarda formal vs. vanguarda engajada; razão vs. sensibilidade...”

“Todos nós sabemos que a Arte não é a verdade.  A Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade, pelo menos a verdade que nos é dado compreender. O artista deve convencer outros da veracidade de suas mentiras.” - Pablo Picasso

“Pois então que a verdade seja dita. As manifestações artísticas são isentas da necessidade de coerência e estão além das mesquinharias que podem surgir em julgamentos relativos à sua relevância. Não precisam ser pertinentes. Não precisam ser eficientes. Não precisam ser compreendidas. Precisam apenas existir. Para isso, dependem de uma vontade de vir a ser que promova uma ação criativa. Dependem do anseio insistente que providencie a sua realização enquanto ação, evento, marco ou atualização.”

“As manifestações artísticas dependem de um momento que o faça significativa, já que cada uma é documento que revela tanto o momento histórico em que surge, quanto o momento de sua apreciação, vivência...”

“... De todo modo, por mais que a valorização de determinados artistas e estilos, em detrimento de outros não seja sozinha evidência da desigualdade social entre pessoas, é um bom indício dos julgamentos e aspirações de grupos sociais em determinados momentos históricos. Permite que se identifique o que é dotado de valor, de prestígio, de status. É justamente aqui que reside a importância do artista se questionar sobre o seu papel social. Afinal, até que ponto as manifestações que realiza e das quais participa contribuem para a inclusão ou exclusão de outras práticas sociais de outros valores, de outras pessoas? Até que ponto o seu engajamento apresenta, de fato, uma postura política e ética diante da sociedade na qual atual?”

“... Contemplar o resultado de um processo artístico é inserir-se no mundo perceptivo de uma pessoa.”

“No intuito de compreender o fenômeno artístico, a Sociologia da Arte pode consolidar-se mediante a investigação (a) da relação entre a obra artística e as condições sociais de sua possibilidade; (b) do modo como uma obra artística se insere no mundo social; (c) da relação entre obra artística e o público; (d) da função social do artista; (e) da função política de uma obra artística; e, (f) das premissas ideológicas do autor. Soma-se a isto a preocupação de como cada manifestação artística deve ser valorizada por sua especificidade singular, provocando a impressão de que não existe espaço para uma teoria geral sobre a criação ou recepção artística. O manifesto será compreendido como um documento que resulta de e, ao mesmo tempo, promove ações sociais direcionadas pelo fazer artístico de um grupo de pessoas que compartilham experiências e valores.”

“Diferentemente da Arte Concreta que, sob os preceitos da abstração geométrica, privilegiava formas e cores puras, sem referência ao mundo da vida, sem referência à subjetividade do artista, o Neoconcreto estrutura uma nova dinâmica de fruição estética. O momento da fruição com a obra artística promoveria um amálgama entre a dimensão pública da obra e a realidade interior do artista. Os artistas neoconcretos eram contrários aos modos padronizados de se relacionar com a Arte, eram contrários a uma Arte direcionada para prêmios e salões; para o preenchimento de requisitos acadêmicos ou representacionais; para ser contemplada e não vivida.”

“A promoção do artista enquanto ator social diferenciado ocorre não apenas em termos das habilidades técnicas e estilísticas adquiridas ou mesmo dos valores ideológicos que passa a sustentar. Artista é aquele que convive em determinados circuitos sociais e que promove um estilo de vida específico mediante o trabalho simbólico que realiza. Artista é aquele que marca não apenas a sua distinção social, mas também a de outros, daqueles que corroboram com determinados padrões de apreciação estética. No Brasil a participação em determinados estilos de vida é marcada por um evidente limite estabelecido em função da classe social e do status simbólico de que goza uma determinada pessoa.”

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Verbivocovisual = Na poesia concreta, diz-se da forma de apresentação de um poema em que o texto é organizado segundo critérios relacionados aos aspectos gráficos e fonéticos das palavras; integração do verbal, do visual e do sonoro: a dimensão verbivocovisual da poesia.

(Obs.: Conceito criado por James Joyce (1882-1941), poeta irlandês.)

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A VANGUARDA PARTICIPACIONISTA BRASILEIRA (1954-1973)

“O neoconcretismo foi responsável pelas principais transformações estruturais no campo das artes visuais no Brasil, como a superação dos suportes tradicionais (pintura e escultura), a proposição de novos meios para a criação artística (objetos, ambientes, apropriações etc.) e uma modificação das obras de arte (participação).”

Obra de Helio Oiticica

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“A manifestação artística é pensamento colocado em ação e pode conduzir a uma reflexão política e social. Nestes termos, a manifestação artística não efetua uma transformação da realidade a ponto de mudar o mundo, mas pode contribuir para a mudança da consciência e impulsos dos homens e mulheres, que poderiam mudar o mundo. Ela pode imparar, promover, consolidar ideias, valores e utopias.”

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Intradução - Nelson Ascher

“... o poeta Augusto de Campos cunhou um termo feliz: intradução. Se tradução significa, originalmente, conduzir (dução) através (tra) de, já em intradução, o in pode tanto ser um sufixo de negação quanto de inserção, enquanto intra indica penetração. Temos, então, a um tempo, vários termos: in-tradução afirma seu caráter de tradução penetrante ao mesmo tempo que nega-conserva a própria ideia de tradução; intra-dução simplesmente postula a atividade de penetrar. Se a tradução, propondo-se a levar através de, objetivava levar além de, a algum original mais originário, a intradução se propõe conduzir, texto adentro, a um fim por definição inalcançável. Este termo caracteriza bem uma operação que, ao contrário da tradução convencional, busca sua identidade na área da diferença, proporcionando, assim, o melhor dos acessos ao interior do poema. Podemos, então, definir intradução como a superação da tradução que enfoca a área da diferença, possibilitando uma história própria à sombra, que faz se erguer.”

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NOIGANDRES E INVENÇÃO revistas porta-vozes da Poesia Concreta por Omar Khouri

“Mantendo o clima de polêmica que sempre caracterizou o grupo, o Plano-Piloto diz a quantas veio: declara extinto o ciclo histórico do verso e coloca o branco da página como elemento de ordem estrutural na poesia. Condena a linearidade do discurso e propõe uma sintaxe espacial. Elenca precursores, de Mallarmé a João Cabral de Melo Neto e reivindica conquistas das Artes Plásticas e da Música, o que demonstra a vocação intersemiótica da Poesia Concreta. Considera o poema um objeto em si e por si. Coloca ainda a palavra como matéria-prima do poema, mas palavra considerada em suas dimensões sonora, semântica e gráfica (visual).”


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“O poema visual caracteriza-se por valorizar a imagem como entidade universal. A palavra, no caso, é um apêndice muito bem explorado e colocado, compondo um todo harmônico capaz de permitir ao "vleitor" - aquele que lê e vê ou só vê -  uma infinidade de leituras, de acordo com o nível do seu conhecimento, experiência, cultura e escolaridade.”

- Hugo Pontes

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ENCONTRO DE TEXTOS - Clarmi REGIS

“Esse movimento de invenção e construção poéticas pensou na comunicação eficiente e no ato da leitura, incorporou a sensibilidade do leitor moderno ao trabalho da criação, utilizando os mais modernos recursos e técnicas visuais. Mas, permanece pouco lido e, portanto, pouco conhecido. Na verdade, o modo de produção do poema concreto transforma o poeta num artista gráfico, artesão que deseja manter as marcas do seu trabalho ao longo do processo industrial.”

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“A poesia concreta caracteriza-se pelo diálogo e antagonismo em relação aos recursos poéticos tradicionais. Como se verá, a exploração de todas as potencialidades das palavras e das combinações sintáticas é dominante. São utilizados novos recursos, que abrem possibilidades múltiplas de significação e questionam a leitura linear, de mão única. Cada poema é um enigma a ser decifrado – basta uma aproximação sensível e uma boa vontade lúdica do leitor. Daí, julgarmos impertinente notificar todos os procedimentos mais técnicos de palavras. Que o leitor tenha  a liberdade de se render ao estranho, num contato imediato de terceiro grau.”

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“A poesia concreta, que acaba de romper as paredes da experiência de um grupo para se tornar um acontecimento, uma revolução, funda-se no trabalho sobre a linguagem poética, é o fruto de pesquisas que, partindo das conquistas válidas da poesia dita moderna (Mallarmé, Joyce, Pound, Cummings, Oswald de Andrade, Drummond, João Cabral de Melo Neto), rompeu com a sintaxe discursiva, unidirecional, trazendo em compensação para o campo da expressão poética as estruturas pluridimensionais, criadas pela relação visual dos elementos verbais e a exploração de suas cargas sonoras.”

- Ferreira Gullar


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POESIA DIGITAL: TRÊS LEITURAS DA OBRA DE JASON NELSON - Renato Medeiros Cordeiro

“Na poesia experimental que investe no diálogo entre linguagens, os versos se tornam mais curtos ou até dão lugar a palavras e letras. O poema inteiro pode ser formado por apenas uma vogal e, mesmo assim, ser provido de expressividade plástica e semântica.”

“Com um pouco de atenção, pode-se perceber que, no fundo e de certo modo, toda poesia escrita é visual, mesmo que nem sempre haja apelo visual envolvido.”

“Temos, portanto, três tendências concretistas, de acordo com a classificação de Philadelpho Menezes (1991). Na poesia concreta do grupo Noigandres, a poeticidade está no produto autônomo, ou seja, na chamada obra poética. Já em Wladimir Dias-Pino, a fisicalidade do produto é somada à participação do leitor, capaz de funcionalizar a obra. Por fim, na poesia neoconcreta a poeticidade está centrada apenas na vivência poética do leitor, transformando o objeto apenas em um pretexto ativador dessa expressividade íntima do espectador. O neoconcretismo acaba por tornar-se uma experiência conceitual, abstrata e subjetiva, cada vez menos ligada à verbalidade e que inclusive vai deixando de lado a palavra, para concentrar-se na letra.”

“A proposta da semiótica peirceana é entender como se dá o processo da percepção da realidade através da significação e também como os significados são transmitidos de uma mente para outra. Conhecer a dinâmica dos signos ajuda a compreender determinados comportamentos e práticas sociais, podendo esclarecer que tipos de ferramentas podem ser úteis para se intervir nessas práticas. A Semiótica também pode ajudar na escolha de signos adequados para melhor informar, dizer, produzir sentido, enfim, significar. Ainda na publicidade, podemos ilustrar isso com um exemplo simples: se o publicitário ou designer gráfico consegue entender a dinâmica dos signos, ele pensará nos signos que atingirão seu público-alvo com melhor eficácia em uma nova campanha.”

“Essa pluralidade de formatos e campos de atuação deu frutos a várias denominação, mas nos deteremos a chamar de poesia visual essas manifestações poéticas voltadas à visualidade, de acordo com o termo adotado por Philadelpho Menezes, para quem “a poesia visual é um termo genérico que agrega, que contém em seu interior, as diversas poéticas visuais, incluindo-se o da poesia concreta.”

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A OBRA POÉTICA DE ARNALDO ANTUNES - Nelson Ribeiro Modro

“Esclarecemos ainda que o termo vanguarda é entendido como um movimento consciente de cunho inovador e no caso da poesia se trata daquela "que, experimentando novos procedimentos de composição de poemas choca-se com o sistema estético vigente enquanto reflexo de uma ordem ideológica mais ampla, e, por isso, propõe, mesmo que subliminarmente uma transformação desse complexo cultural", isto é, propõe um rompimento com as estéticas poéticas anteriores e a inauguração um novo fazer poético.”

“Há a distinção entre os termos poesia/poema. Os poetas desta manifestação literária afirmam que não existe poesia processo, mas sim Poema Processo, "porque o que é produto é o poema". A poesia é metafísica (abstrata e individual), enquanto que o poema é físico (é produto e é coletivo).”

“Essa vinculação do poeta com uma estética concretista não é transitória. Segundo declarações suas: "sempre me senti muito atraído pela coisa construtiva da poesia concreta... trabalhar com a materialidade da linguagem. O que me emociona mesmo vem disso, e não de uma coisa mais subjetiva ou discursiva. Para mim a emoção vem da síntese, da condensação de sentidos dentro da poesia. Considero preconceituoso e equivocado esse mito de que a poesia concreta não tem emoção". - Arnaldo Antunes”

“Num depoimento do poeta Bernardo Vilhena é possível verificar a postura adotada pelos poetas marginais frente ao fazer poético:

- No momento em que você está diante do papel, jogando com as palavras, não importa a forma, seja concreta, práxis, processo, abscesso, retrocesso, caguei, qualquer forma de poesia, o que importa é o prazer que você tem em estar brincando com aquela forma.”

“Seus primeiros livros lançados comercialmente (Psia, Tudos e As Coisas) possuem como característica o experimentalismo, isto é, Arnaldo Antunes ousa poeticamente ao adotar várias práticas construtivas diferenciadas. O uso objetivo da palavra; o aproveitamento icônico; a ingenuidade construída e o caráter lúdico da poesia, enquanto curtição; a decomposição vocabular; a originalidade; a exploração sintático-semânticofônica das palavras; o uso do espaço em branco do papel; o uso de recursos visuais numa aproximação com as artes plásticas e a exploração da possibilidade de novas formas poemáticas são algumas das características advindas de distintas manifestações literárias já consagradas e que podem ser observadas, racionalmente agrupadas e utilizadas, nestas suas obras iniciais. Arnaldo Antunes percorre caminhos que vão desde o verbal até o visual porém sem descartar o núcleo central de seu trabalho: a palavra.”


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“A poesia procura estimular a capacidade de raciocínio e de relacionamento do leitor, criando um envolvimento mais profundo do seu sentido crítico-perceptivo.”

- Fernando Aguiar

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“... o trabalho criador do artista experimental é precisamente produzir estruturas de grande entropia, pois, quanto maior for a entropia dessas estruturas, maior e mais vasta será a informação possível; maior será, portanto, a pluralidade significativa da obra de arte.”

- E. M. de Melo e Castro

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Concrete Poetry in Portugal: Experimentalism and Intermediality - Rui Torres

“Experimental poetry helps to reform the social conscience through the regenerative capacities of the signification of the text.”

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IKON COMO LOGOS. A POESIA VISUAL DE ANA HATHERLY - Piero Ceccucci

“Parece, pois, inútil interrogarmo-nos sobre o que significa um texto poetográfico, no qual se deve procurar não compreender e obter explicações, mas apenas ver. Exclusivamente, no momento em que a recepção se tornar estética e o receptor tiver sido atingido pelo dom luminescente da criatividade; quando a este último for permitido – mediante um puro ato visual que, porém, é também introspectivo e mnemónico e constitui a base psicológica da percepção – conhecer mais do que re-conhecer, o texto poetográfico perderá o seu aspecto esfíngico e, revelando ordem e partições perceptíveis de sentido, abrir-se-á no sentido de uma “legibilidade” provável e não arbitrária.”

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Como ler Poesia Concreta - José Maria de Aguiar Carreiro

“Se é pela primeira vez que a vê, não tente lê-la como poesia, melhor, nem sequer tente lê-la de todo: olhe simplesmente para ela. Examine os espaços entre as letras, as variações tipográficas, os espaços à volta das palavras. Considere-a como uma imagem. Depois veja que ideias surgem dessa imagem associadas com as letras e as palavras que há nela.”

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“A poesia semiótica faz parte de uma tendência dominante dos anos 60, que buscava a criação de uma poesia visual sem palavras. (...) A teoria da poesia semiótica é perfeita: pensar um poema visual cuja forma brote da própria letra. Isto é, os diferentes desenhos que uma palavra pode ter determinariam o desenvolvimento do poema visual numa configuração abstrata. (...)

O poema semiótico é composto de figuras geométricas, sem qualquer significado, que vão se entrelaçando num desenvolvimento de formas puramente gráficas. Para lhes dar sentido, o autor cria ao lado do poema uma “chave léxica”, isto é, um pequeno glossário das formas visuais que aparecem no poema, atribuindo-lhes um significado, uma palavra correspondente. Através desse processo, a forma visual pura (o “ícone”, na teoria semiótica) ganha um sentido (“o símbolo semiótico”).

Um dos postulados interessantes da teoria semiótica é a ideia de que os signos da linguagem possuem seu lado icônico e seu lado simbólico, isto é, seu aspecto formal e seus significados, mas de tal forma entrelaçados que é impossível separá-los e mesmo distingui-los precisamente. Ora, a poesia semiótica faz precisamente o contrário: não há nada num triângulo preto apontado para a direita que dê a ele o significado de “macho”, ou num outro virado para a esquerda que seja “mulher”. A relação estabelecida na “chave léxica” entre as figuras geométricas e as palavras é arbitrária e forçada. O desenvolvimento das figuras geométricas também não obedece a qualquer necessidade das próprias formas.”

- Philadelpho Menezes


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O TIPOGRÁFICO E O TOPOGRÁFICO NA TRADUÇÃO POÉTICA: A VISILEGIBILIDADE DO POEMA VOYAGE DE GUILLAUME APOLLINAIRE - Álvaro Faleiros (Universidade de Brasília)

“Segundo Jacques Anis (1988: 173), o espaço gráfico de um texto ou de um tipo de texto é: O conjunto de traços que caracterizam sua materialização sobre um suporte de escrita, assim como as relações que se estabelecem entre esses traços e a significância. (...) Esses traços são a formatação (dimensões do espaço explorável), o tipo de inscrição, as letras ou caracteres empregados, os sinais de pontuação e traços gráficos.”

“Segundo Meschonnic (1982: 304): Os brancos são necessários ao poema. Não apenas como margens, mas como entrada do branco da página no interior do corpo do texto. As entradas dos brancos marcam uma alternância entre o conhecido e o desconhecido, o não-dito e o dito, avanços, recuos, as rimas da linguagem consigo mesma, as intermitências do viver-escrever. A tipografia assinala que o poema é um ritmo organizador (...) O branco não é um espaço inserido no tempo de um texto. Ele é parte de sua progressão, a parte visual do dizer.”

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"Affonso Romano de Sant´Anna sempre provocou os concretistas, usando adjetivos que refletiram suas restrições: “Os concretistas pelejaram por revalorizar insanamente o ideograma” (p. 25 de seu livro POESIA SOBRE POESIA, 1975). Cobrava dos vanguardistas do período (1956-1968) “mais humour como os de 22”. Ou mais explicitamente: “Ver a contradição entre os ideogramas concretistas, que apelam para a síntese, versus as intermináveis teorizações analíticas para explicitá-los”. E em seguida ironiza: “Exercício escolar: desentranhar desses versos os nomes dos concretistas paulistas”, referindo ao próprio verso em que fala de “sermões ideogramáticos”... (Idem, p. 26)"

- Antonio Miranda

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“Processo é uma coisa em construção.  Se a poesia tradicional acha que um poema está concluído, possui um autor, que não aceita que ninguém o altere, o poema/processo, por sua vez, tem a tese do poema em processo. Só tem valor quando seu processo é trabalhado por diversos autores, com novas versões, partindo do gráfico para o objetual, para o cinematográfico, até esgotar toda aquela proposta inicial do poema.”

- José de Anchieta Fernandes Pimenta


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Concretismo (1956) por Hilda O. H. Lontra

Dando prioridade ao aspecto da "procura de códigos", em detrimento ao da "procura de mensagens", o Concretismo fez-se inovador, pela presença de:

a) recursos semânticos: ideogramas, trocadilhos, vocábulos polissêmicos;

b) recursos sintáticos: técnica de justaposição aleatória, atomização das partes do discurso;

c) recursos morfológicos: construção e distribuição ímpar de prefixos e sufixos, exploração de novos radicais;

d) recursos lexicais: neologismos, empréstimos inusitados, estrangeirismo, recurso a siglas;

e) recursos fonológicos: excessiva exploração de assonâncias, aliterações, ecos, rimas internas, distribuições fonéticas contrastantes;

f) recursos gráficos: exploração do espaço em branco, do silêncio gráfico, ruptura com o verso, não-linearidade, pontuação.

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“Either you are going to work within a received discipline - the sonnet is a well known form, and one can work within that well known form, one can do interesting things within it.” 

- Bob Cobbing

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Interview: Ballet of the Speech Organs: Bob Cobbing on Bob Cobbing - Steven Ross Smith (1998)

SR: Have you ever written in what might be considered, whatever it means, as the more traditional forms?

BC: No, I don’t think so, I think I was persuaded to write, as I mentioned earlier, by being secretary of a writer’s group - a non-writing secretary of a writing group but I was persuaded to become a writer member. At that time, whether consciously or unconsciously, I said to myself there is no point whatsoever in adding to the quantity of poetry in this world. The world has quite enough poetry already. Probably too much. Far too much. The only excuse for being a poet today is to add to the quality of poetry, to add a quality which was not there before. Often, though, I have said that I write poems which I feel the need for, which nobody else has written yet. And I think that is what one writes, what one feels a need for. One tries to introduce a quality rather than merely adding a quantity.”

SR: So there’s emotion in your work.

BC: Oh, very definitely, yes. Yes, yes. I think this brings us back to the whole controversy in concrete and sound poetry. Those who regard it simply as an intellectual exercise, who think it’s concerned solely with form and that one is eradicating emotion, altogether, and those like myself who believe concrete poetry and sound poetry can be just as romantic as classical. I’m essentially a romantic, and I think all my work has feeling it. I mean the whole concept of the poem on the page the poem sounded is based on feelings and emotions, as well as on form.”


Bob Cobbing

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