domingo, 12 de abril de 2020

VOCÊ É UM POLÍMATA?

POLIMATIA

O que acham que é: Conceito que define pessoas multitarefas.

O que realmente é: Polimatia é a capacidade que algumas pessoas têm de alcançar excelência em múltiplas — e distintas — áreas do conhecimento. O termo, do grego clássico, polumathēs, é a junção do prefixo polu (múltiplo, poli) e manthanein (raiz do verbo aprender). Para Michael Araki, professor de Empreendedorismo e Gestão na Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador na PUC-RJ, a Polimatia depende da ocorrência de três fatores: abrangência, profundidade e integração. “A abrangência e a profundidade são bastante consensuais entre os pesquisadores da área e significam que o Polímata não pode ser alguém restrito a uma única área, tampouco pode ser um diletante, alguém que persegue múltiplos interesses de forma superficial.” Já o fator integração, segundo Araki, envolve a capacidade de gerar conexões novas e úteis.


O Polímata mais famoso da história é Leonardo da Vinci (pintor, escultor, arquiteto, físico, filósofo, geólogo etc). Embora seja quase um chavão citá-lo, aqui a referência tem o sentido contrário: não é necessário pintar uma Monalisa ou ser um gênio para ser um Polímata. Mas também não é tão simples assim. Araki afirma que a Polimatia é algo que pode ser atingido, em teoria, por boa parte das pessoas, a questão é que além de motivação e persistência, é preciso haver o desenvolvimento de diversas habilidades cognitivas, em especial, em relação à velocidade de adquirir, consolidar e saber integrar novos conhecimentos. “Como os pressupostos são muito difíceis, é natural que muitas pessoas não cheguem a se desenvolver a ponto de serem consideradas Polímatas”, diz o professor.

Quem inventou: Heráclito de Éfeso, filósofo grego do período pré-socrático, é apontado como inventor do termo. Embora o sentido da palavra seja o mesmo, o objetivo de Heráclito, segundo Araki, era outro: criticar o conhecimento de filósofos (Pitágoras, em especial), que advinha dos livros e da tradição. Logo, o que ele criticava era a “polimatia” desses outros filósofos. “Heráclito prezava o conhecimento adquirido pela experiência, considerando livros e tradição algo como fake news”, fala o pesquisador.

Quando foi inventado: Heráclito viveu entre 540 a.C. e 470 a.C.

Para que serve: Para benefícios sociais e pessoais. Polímatas costumam gerar contribuições para a sociedade em diversas áreas. Já o exercício de desenvolvimento da Polimatia pode fazer com que uma pessoa se conheça mais e alcance potencialidades, mesmo que não chegue a um nível de excelência (o que não é demérito). Segundo Anna Flávia Ribeiro, pesquisadora da Associação Polímata, até recentemente, tanto na esfera profissional como na mercadológica, o modelo de valorização que imperava era a ultra especialização. “Quanto mais mergulhado em um campo específico mais requisitado era o profissional. Mas hoje, o funcionamento é outro. Vivemos em um mundo VUCA, no qual a capacidade de recombinação é a resposta para os problemas”, afirma ela.

Araki conta que tanto a Polimatia sendo um fim em si mesma quanto algo buscado para alavancar a flexibilidade, ela tem como ponto central a criatividade: “O caminho para a geração de ideias originais e úteis passa pela capacidade de combinar elementos díspares. Se alguém tem uma vasta e variada gama de conhecimentos, é esperado que consiga gerar mais ideias surpreendentes do que quem viveu sua vida toda em um único campo de conhecimento.”

Quem usa: Além de Leonardo da Vinci, outro nome bastante apontado quando se fala em Polímatas é Benjamin Franklin (jornalista, editor, autor, filantropo, político, abolicionista, funcionário público, cientista, diplomata, inventor e enxadrista). No Brasil, foram considerados Polímatas Ruy Barbosa (jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador) e Gilberto Freyre (sociólogo, escritor, autor de ficção, jornalista, poeta e pintor), entre outros.

Dentre os Polímatos atuais, Araki menciona os americanos Ray Kurzweil (cientista da computação, autor, inventor e futurista) e Charlie Munger (investidor, homem de negócios e filantropo). Ele fala: “Kurzweill inventou de sintetizadores musicais a máquinas de leitura para cegos, além de ser um grande influenciador com suas publicações sobre a exponencialidade do mundo atual e a singularidade. Munger é vice-presidente do Berkshire Hathaway, conglomerado controlado por Warren Buffet. Ele começou estudando matemática em uma prestigiada universidade, abandonou aos 19 anos, ingressou no exército, estudou meteorologia na Caltech, e se formou em Direito de Harvard”. Steve Jobs também era considerado Polímata (embora sem consenso) e seu nome aparece no texto In “Defense of Polymaths”, publicado na Harvard Business Review. No artigo, Jobs é descrito como engenheiro, homem de negócios extraordinário e brilhante em marketing.

Efeitos colaterais: Risco de superficialidade de conhecimento por pessoas que tentam a excelência em variadas áreas a fim de se tornarem Polímatas.

Quem é contra: Pessoas que acreditam que os Polímatas sabem sobre muitas coisas mas, ainda assim, falta profundidade. Ou que, diferentemente do passado, o mundo atual precisa de especialistas.


Para saber mais:

1) Leia, na Big Think, How To Be a Polymath. Steven Mazie, correspondente da The Economist, professor da Bard High School Early College e ex-professor da Bard College, começa o artigo falando de seus alunos.

2) No Pop Matters, Everyone’s a Polymath on the Internet critica a perda de sentido da Polimatia na atualidade.

3) Leia, na Harvard Business Review, o texto In Defense of Polymaths.

4) E a BBC questiona: Does the world need polymaths?

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