Perfis "Eu me chamo Antônio" e "Um Cartão" conquistam likes e popularizam a literatura nas redes sociais
Já se foi o tempo em que a poesia morava apenas nos livros. Os projetos Eu me chamo Antônio e Um Cartão conquistam milhares de seguidores no Facebook e no Instagram e provam que versos e rimas têm lugar de destaque nas redes sociais.
O publicitário Pedro Gabriel nasceu na África, chegou ao Brasil ainda criança e em meio a dificuldades de aprender a língua portuguesa começou a prestar atenção nas palavras. Foi em 2012, rasbiscando em guardanapos de papel num balcão de um boteco carioca, que nasceu o Eu me chamo Antônio:
– Nunca escrevi pensando em um dia publicar no Facebook. Eu sempre criei para exteriorizar as minhas angústias ou alegrias. Mas, depois de um tempo, eu fiquei com medo de que os guardanapos originais pudessem se estragar ou rasgar por se tratar de uma plataforma muito delicada e frágil. Decidi então publicar na internet para ter um registro digital de todas as minhas criações até então.
O poeta, que já produziu mais de 1,5 mil guardanapos, hoje conta com mais de 820 mil seguidores no Facebook, 435 mil no instagram e mais de 60 mil no tumblr, plataforma onde o projeto começou. No ano passado, os guardanapos viraram livro, que já vendeu mais de 95 mil exemplares. Os poemas ilustrados por Pedro Gabriel são repletos de trocadilhos, metonímias (emprego de um termo no lugar de outro, havendo entre ambos relação de sentido) e outras figuras de linguagem que arrebataram internautas de todos os tipos:
– O casamento do traço simples com a palavra acessível fez com que muitas pessoas se identificassem e adotassem os guardanapos. Eu falo de sentimentos comuns a todos de uma forma diferente, leve e inofensiva. Talvez isso também tenha ajudado para que a minha página ganhe essa proporção em tão pouco tempo. Eu fico muito feliz em saber que, de alguma forma, estou me comunicando com pessoas tão diferentes unicamente com a delicadeza, o respeito e a sinceridade da minha arte.
No Instagram, um carioca de 24 anos enche as timelines de seus mais de 6 mil seguidores com cor, poesia e diferentes grafias. Pedro, que prefere o anonimato, é o autor de Um Cartão, que começou em maio deste ano. Os cartões são filhos diários de um hobby:
– Há algum tempo tive um blog onde despejava toneladas de letras todos os dias. Com os cartões, encontrei uma solução prática pros textos. Meus rabiscos mentais foram transferidos para o papel e, novamente, sendo compartilhados.
A opção pela rede social de fotos se deu pelo desejo de tornar livre a interpretação de suas frases. Segundo o poeta do Instagram, escrever pouco é permitir que as pessoas acrescentem a interpretação que lhes seria mais conveniente sobre suas palavras.
As redes sociais se transformaram na grande praça pública para esses poetas digitais e o motivo de seu sucesso é a necessidade humana de poesia ou qualquer forma de arte:
– Por mais que a maioria das pessoas prefira páginas de humor, de plágio ou páginas que sacaneiam celebridades, eu ainda acredito que a delicadeza sempre terá seu espaço. Com ou sem internet, as pessoas precisam da poesia, da literatura, da música ou de qualquer outra manifestação artística para suportar o mundo. A rede social nada mais é do que a sociedade que se escondeu dentro de uma rede. Mas essa sociedade ainda tem desejos reais, coisas que as conexões, os cliques, os downloads nunca irão suprir. E a poesia, na minha opinião, vai sobreviver e terá sempre espaço em qualquer época, em qualquer meio, em qualquer formato e de qualquer forma.
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