Foi a estreia do artista de rua e grafiteiro Bozó Bacamarte em grandes eventos. Ele reproduz nos muros da cidade de Olinda a vida simples do homem do interior utilizando traços que se confundem com as xilogravuras usadas na literatura de cordel. Idealizador do ArtRua, André Bretas diz, no entanto, que Bozó “tem um trabalho universal que poderia ser compreendido em qualquer lugar do mundo”
Favela 247 – A terceira edição do ArtRua – festival de arte e cultura urbana que aconteceu neste último fim de semana, no Centro Cultural Ação da Cidadania, na Gamboa – contou com a estreia em grandes eventos do artista de rua e grafiteiro pernambucano Bozó Bacamarte, de 26 anos. Artista da Nuvem Produções, Bozó reproduz nos muros da cidade de Olinda a vida simples do homem do interior utilizando traços que se confundem com as xilogravuras usadas na literatura de cordel, de acordo com matéria do cultura.rj. Mas o trabalho de Bozó não é regionalista, afirma André Bretas, idealizador do ArtRua. “O trabalho do Bozó é sensacional, ele tem um estilo próprio, é um artista completo. Existem outros que trabalham com o cordel, mas de uma forma mais regional. Não é o que acontece com o Bozó, que tem um trabalho universal que poderia ser compreendido em qualquer lugar do mundo”. Para o artista, participar do projeto foi gratificante, porque pode divulgar o trabalho do Nordeste. “Me senti em casa, fiquei super à vontade. Antes já tinha feito exposições, coletivas, pintado residências e fábricas. Aos poucos meu trabalho foi se propagando dentro da cidade e ganhamos valorização”, diz.
Por Danielle Veras, para o cultura.rj
Pela cultura nordestina
Conheça o trabalho de Bozó Bacamarte, artista pernambucano que expôs no ArtRua pela primeira vez
As montanhas enormes, as belas paisagens, o sotaque e os bares tocando samba foram algumas das carioquices que chamaram a atenção do pernambucano Bozó Bacamarte, artista de rua e grafiteiro de 26 anos que participou pela primeira vez do ArtRua, cuja terceira edição aconteceu neste último fim de semana no Centro Cultural Ação da Cidadania, na Gamboa. Bozó, artista da Nuvem Produções, reproduz nos muros de Olinda a vida simples do homem do interior utilizando traços que se confundem com os usados na literatura de cordel, as xilogravuras. Antes dele, nomes como João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Gilvan Samico e José Francisco “J” Borges, todos pernambucanos, também lutaram para preservar a cultura do povo nordestino. Os dois primeiros através da literatura; Samico por meio das gravuras e Borges das xilogravuras e do cordel.
“Sempre procuro conversar com as pessoas, conhecer seus hábitos e sua cultura. Faço diversas comparações entre aquelas que moram no interior e no centro da cidade. A partir da estética dessas pessoas crio um personagem que retrata o jeito do nordestino. Percebi que isso tem que ser lembrado, já que o mundo evolui muito rápido. Sinto a necessidade de manter a cultura viva e de levar o trabalho adiante, pois o povo do Nordeste tem muitas histórias para contar”, explica Bozó, que começou a trabalhar com arte urbana em 2002. “No início eu tinha o intuito de pintar por diversão, até que comecei a procurar uma nova linguagem para os meus trabalhos. Durante algumas pesquisas consegui chegar às gravuras de cordel de Gilvan Samico e J. Borges, que me influenciaram com seus trabalhos riquíssimos. A literatura de Ariano Suassuna também influiu neste processo”, afirma o artista, que se diferencia dos outros grafiteiros pelo fato de não utilizar o spray, e sim o pincel, além de outras técnicas como o lambe-lambe (colagens).
Este é o primeiro evento grande do qual Bozó participou. “Foi muito gratificante participar do ArtRua porque pudemos divulgar o trabalho do Nordeste. Me senti em casa, fiquei super à vontade. Antes já tinha feito exposições, coletivas, pintado residências e fábricas. Aos poucos meu trabalho foi se propagando dentro da cidade e ganhamos valorização”, diz o artista, que não tem dificuldades para conciliar as ruas com as galerias. “Os meus trabalhos são bem aceitos tanto nas ruas quanto nas galerias. Existe uma diferença entre eles: quando faço na rua gosto de manter a estética original da parede, porque mantenho o envolvimento da pintura com o local, causando uma estética urbana. Nas galerias é algo mais pessoal, não existe tanto envolvimento com o local”, pondera. Bozó Bacamarte se define como um artista urbano. “Pinto para mim e para as pessoas. Quero provocá-las a pensar e a ter ideias. Sou um artista urbano e acredito que tenho a obrigação de manter nossa cultura popular viva, como faziam Samico e Suassuna”.
Xilogravuras em alta
A presença das xilogravuras na cultura nordestina é marcante, justamente por conta da popularização da literatura de cordel. O processo de produção das figuras se dá através do entalhe de uma superfície de madeira com um instrumento cortante conhecido como goiva. Com o desenho marcado na madeira, utiliza-se um rolo com tinta para imprimi-lo em uma folha. A tinta preta é a mais utilizada para esse processo, já que um desenho com vários matizes é mais trabalhoso. “As xilogravuras são bem comuns no Nordeste e fazem parte do costume do povo nordestino, retratando sua presença e maneira de agir”, comenta Bozó que, chegou, inclusive, a fazer um curso para conhecer melhor a técnica e os materiais utilizados. “Mas ainda não era o que eu queria. É um processo trabalhoso, que exige várias etapas. Me identifiquei mais com a estética rústica, com os traços da goiva na madeira e até com a qualidade da impressão, que não sai 100% preta, tem uns riscos brancos por causa da profundidade da madeira. Eu busco um resultado bem próximo ao da xilogravura, para que as pessoas possam identificar meu trabalho de cara, mas quero um diferencial, por isso uso colagem e faço mistura de cores para dar o efeito de sombra.”, diz.
Mas o trabalho de Bozó não é regionalista, afirma André Bretas, idealizador do ArtRua. “Eu cheguei ao trabalho dele através do Robézio e da Terezadequinta, casal do Acidum Project que achava o trabalho do Bozó diferenciado. E é o que acontece, o trabalho do Bozó é sensacional, ele tem um estilo próprio, é um artista completo. Existem outros que trabalham com o cordel, mas de uma forma mais regional. Não é o que acontece com o Bozó, que tem um trabalho universal que poderia ser compreendido em qualquer lugar do mundo”.
Um ajuda o outro
Para Bozó, as pessoas não eram simpáticas ao grafite, apesar de não ter sofrido, particularmente, nenhuma forma de preconceito. “Antigamente tinha um preconceito muito forte, mas depois que a mídia começou a fazer uma propaganda positiva, as coisas começaram a mudar. Devo muito a ele porque os artistas do grafite foram os primeiros a me reconhecer e a ver o meu potencial. Fui conhecendo as pessoas e fazendo amizades. Um ajuda o outro, e assim vamos enriquecendo a cultura do nosso estado”, diz.
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