Por Alysson Augusto
8 de junho de 2017
Uma das questões que me afligem com certa constância é sobre o sentido de “teoria”, tanto no campo científico quanto filosófico. É muito comum que as pessoas confundam “teoria” e “lei”, como se teoria fosse algo com pouco fundamento comparado a uma lei — há quem diga que “quando uma teoria se comprova, ela vira lei”, quando na verdade uma teoria é mais complexa do que uma lei, e são as leis os pilares de uma teoria (no campo científico).
Mas qual seria a diferença entre “teoria científica” e “teoria filosófica”? Não me parece uma pergunta qualquer, uma vez que os tipos de abordagem diferem em muitos aspectos, e mesmo assim a mesma palavra (teoria) é utilizada para se referir a diferentes formas de conhecimento que são bastante complementares — e essa complementariedade me parece justificar uma tentativa de aproximar a própria linguagem utilizada em ambos os terrenos.
Temos, por exemplo, a teoria da Evolução, sem a qual boa parte do conhecimento científico acumulado ao longo dos últimos séculos careceria de fundamento, pondo em cheque a própria ciência. Ao mesmo tempo, temos a Navalha de Ockham, que embora seja considerada um princípio norteador de uma conduta científica (escolher, dentre as teorias disponíveis, aquela que for mais simples), ainda assim pode ela mesma ser considerada uma teoria, se formos levar em conta que optar pela mesma não carece de fundamentos mas, antes, já foi objeto de disputa filosófica (Leibniz, Menger e Kant eram anti-navalha) e é hoje inteiramente justificado (seja pelos argumentos do filósofo medieval Guilherme de Ockham — e pela ótima exposição a respeito do assunto por Elliot Sober — , seja pela lei das probabilidades na matemática ou, ainda, pelo princípio da falseabilidade de Popper). No campo filosófico, a Navalha de Ockham enquanto teoria está sujeita ao contraditório. No campo científico, sequer como estritamente teoria pode ser considerada (é adotada, ponto final).
O que se entende por teoria científica é que seja algo, até prova em contrário, “provado”. Teorias científicas podem ser tomadas como verdade, ficando pouco justificadas as críticas do tipo “ah, não é uma lei, é uma teoria”, que visam desqualificar uma teoria com base científica. Porém, teorias como a navalha de Ockham, estruturadas abstrativamente sem necessidade de experimentos e observação, costumam ser anteriores à própria teorização científica, pois tratam-se de teorias filosóficas, que dão base para a própria ciência. O significado científico de teoria, nesse sentido, difere do significado filosófico.
Temos, por exemplo, a teoria da Evolução, sem a qual boa parte do conhecimento científico acumulado ao longo dos últimos séculos careceria de fundamento, pondo em cheque a própria ciência. Ao mesmo tempo, temos a Navalha de Ockham, que embora seja considerada um princípio norteador de uma conduta científica (escolher, dentre as teorias disponíveis, aquela que for mais simples), ainda assim pode ela mesma ser considerada uma teoria, se formos levar em conta que optar pela mesma não carece de fundamentos mas, antes, já foi objeto de disputa filosófica (Leibniz, Menger e Kant eram anti-navalha) e é hoje inteiramente justificado (seja pelos argumentos do filósofo medieval Guilherme de Ockham — e pela ótima exposição a respeito do assunto por Elliot Sober — , seja pela lei das probabilidades na matemática ou, ainda, pelo princípio da falseabilidade de Popper). No campo filosófico, a Navalha de Ockham enquanto teoria está sujeita ao contraditório. No campo científico, sequer como estritamente teoria pode ser considerada (é adotada, ponto final).
O que se entende por teoria científica é que seja algo, até prova em contrário, “provado”. Teorias científicas podem ser tomadas como verdade, ficando pouco justificadas as críticas do tipo “ah, não é uma lei, é uma teoria”, que visam desqualificar uma teoria com base científica. Porém, teorias como a navalha de Ockham, estruturadas abstrativamente sem necessidade de experimentos e observação, costumam ser anteriores à própria teorização científica, pois tratam-se de teorias filosóficas, que dão base para a própria ciência. O significado científico de teoria, nesse sentido, difere do significado filosófico.
Há
inúmeros pensamentos não apenas no campo da filosofia que são
considerados teoria, independente de serem validados como teoria
cientificamente (tomem a teoria do valor-trabalho, em economia política,
como exemplo — sua validade é disputada em concorrência a outras
teorias no mesmo campo de conhecimento, como a teoria do valor
marginal).
Um
exemplo de teorias filosóficas, portanto não-científicas, em disputa é a
longa “treta” entre realismo x antirrealismo, que é totalmente teórica,
metafísica e abstrata. Não se trata de algo que se provará
cientificamente, a articulação para sustentar uma ou outra posição é
filosófica. Mesmo assim, o que essa discussão definir impactará
fortemente na própria prática científica (pois é um debate acerca de,
por exemplo, se átomos existem mesmo [realismo] ou se são apenas
constructos que criamos para entendermos um fenômeno desconhecido
[anti-realismo]).
Teoria
científica e teoria filosófica me parecem evidentemente diferentes, e a
condição de que “para ser uma teoria deveria ter um experimento ou
testes comprovados”, como comumente é entendido no campo científico, não
se aplica para muitas ideias que também são consideradas teóricas no
campo filosófico.
Mesmo
assim, o senso-comum do que seja uma teoria parece se direcionar a uma
ideia filosófica de teoria. E por mais que não devesse, essa percepção
mais relativa, que não exige critérios de observação e testagem, escoa
numa percepção mais fraca do que seja teoria científica, provavelmente
ajudando na perpetuação da confusão ingênua de que lei seria um passo
posterior à teoria.
Pelo
bem da comunicação científica e filosófica, acredito que essa confusão
precise de mais esclarecimentos. Mas como salvar a ciência do
relativismo, e ao mesmo tempo evitar um endurecimento da filosofia?
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