terça-feira, 18 de julho de 2017

AMBIGRAMA

Acho que a primeira vez que eu ouvi falar sobre o termo ambigrama foi no filme Anjos e Demônios, no entanto, na época, não dei muita importância. Com o passar do tempo, como o meu interesse pelas artes visuais foi aumentando, decidi pesquisar mais sobre.

Já criei um com o meu nome (D-AMBIGRAMA) e também com o nome do blog (POLYMATUS), além disso, já fiz um de presente para uma moça, que juntava o meu nome com o dela.

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Ambigrama é uma representação gráfica de uma palavra que pode ser vista rotacionada ou invertida horizontalmente com a mesma fonética ou representação visual.

Segundo o cientista da cognição e ganhador do prêmio Pulitzer Douglas Hofstadter (pelo livro Gödel, Escher, Bach, em 1980), o termo ambigrama teve sua origem com base em conversações que ele teve com um pequeno grupo de amigos em Boston, em 1983-84. Este termo não poderia ser atribuído a um único autor, pois sua descoberta foi coletiva, segundo ele, mas acreditamos que sua participação na criação desta palavra certamente foi mais importante do que ele modestamente aceita reconhecer. Do ponto de vista da pureza etimológica, a palavra ambigrama é híbrida, pois une o radical latino ambi, de ambíguo, com o radical grego grama, de escrita. É muito apropriado que sua própria denominação já contenha a ambigüidade a que ela se refere. Ambigrama, portanto, seria a palavra ambígua que permite mais de uma leitura, dependendo do ponto de vista do leitor. É importante enfatizar que empregamos o termo leitura aqui em um sentido estrito, caso contrário abriríamos demais o leque da sua classificação, englobando manifestações que já possuem seu espaço próprio. O termo ambigrama tem sido utilizado majoritariamente, desde então, para descrever certos tipos de palavras manipuladas plasticamente, com o intuito de mantê-las legíveis quando giradas em 180 graus, refletidas vertical ou horizontalmente, ou submetidas a uma série de outras transformações geométricas e espaciais. Estas transformações podem manter o significado da palavra inalterado em seu novo ponto de vista, ou revelar uma nova leitura semântica ou plástica na mesma representação gráfica, proporcionando um novo e rico campo exploratório de possibilidades expressivas.

Outros termos foram propostos para a designação destas formas verbais de manifestação ambígua, tais como: Desenhaturas (Designatures): termo proposto por Scot Morris da extinta revista norte-americana Omni. Seu objetivo foi sugerir a natureza própria de múltiplos significados dos ambigramas. Inversões: Scott Kim utilizou esta palavra em seu livro Inversions, para se referir à todas as variedades possíveis de um ambigrama. A palavra tem várias variações: virando de cabeça para baixo, refletindo em um espelho, girando através de um ponto de referência, subvertendo expectativas, e aderindo novos significados.

Entretanto o suporte mais amplo e sólido tem sido dado ao termo ambigrama. Segundo Martin Gardner, em seu prefácio ao livro de John Langdon, Wordplay :

“Ambigram” is an appropriate term because it suggests a broader property than “symmetry”. Some ambigrams are not ambiguous with respect to symmetry, such as words and phrases that become other words and phrases when inverted, and ambigrams that are ambiguous with respect to a figure and its background.''

Embora uma definição precisa seja difícil, pela própria natureza múltipla das suas manifestações, podemos dizer genericamente que o ambigrama é uma palavra, ou palavras, que podem ser lidas de mais de uma maneira ou de mais de um ponto de vista. Isto é possível devido a uma sutil e intencional deformação das letras constituintes desta palavra, de modo a introduzir nela algum tipo de simetria ou de ambiguidade visual que antes não existia. Isto permite que palavras possam ser lidas da mesma forma depois de um giro de 180 graus, ou que outra palavra se torne legível com essa mesma transformação geométrica, configurando o ambigrama clássico. As palavras podem também adquirir uma simetria especular no eixo vertical, horizontal, ou até mesmo diagonal. Na verdade existem vários tipos diferentes de ambigramas, todos compartilhando um forte estranhamento quando vistos pela primeira vez. Usamos aqui a palavra estranhamento no sentido da experimentação do novo, do inaugural, do não conhecido, e também do não reconhecimento daquilo que nos é familiar, o que nos leva a experimentar sentimentos diversos daqueles a que estamos habituados ao seguir nossa lógica cotidiana.

O ambigrama comporta um adensamento informacional onde a ambiguidade visual é enfatizada, codificando uma síntese de imediata captação em que uma função poética pode ser coagulada em uma forma sintético-ideográfica. Ele pode ser visto também como a imagem de uma condensação sincrônica extrema, quando duas palavras coexistem ao mesmo tempo, no mesmo lugar físico. Devido a todas estas possibilidades descortinadas, o próprio conceito de leitura é colocado em questão. Como ler um ambigrama? Teríamos que usar outro termo, talvez vler.

Ao tomar contato pela primeira vez com os ambigramas, o poeta e jornalista Márcio Almeida disse que a exploração da visualidade intrínseca da palavra como objeto poético autônomo não havia se encerrado com o Concretismo e o Neoconcretismo, nem com o idealismo automatista de base behaviorista-gestáltico. O diferencial ambigramático apresenta-se para ele como uma nova relação entre a palavra e a imagem, sem que se sirvam mutuamente como muleta, ganhando valor estético como objeto plástico/poético autônomo.

Com um sopro revigorante e oxigenador, autores pouco conhecidos e desvinculados de qualquer militância ideológica ou literária vêm trabalhando em seu quase silêncio há mais de trinta anos, desenvolvendo uma nova estética visual que tinha sido mantida longe do conhecimento acadêmico e literário, até então. O ambigrama pode ser considerado como a corporificação de uma demanda sensível da nossa contemporaneidade. Pode ser encarado como uma produção híbrida lítero-plástica que poderíamos chamar de ideogrâmica, por condensar significados através da manipulação fisionômica das palavras. Pode ser visto como um monstro literário, uma quimera poética, um centauro semiótico, transcendendo e fertilizando fronteiras entre áreas que sempre flertaram entre si. Seria uma maneira de se unirem conceitos verbais em uma unidade visual siamesa e indissolúvel, de modo estético e perturbador. Pode vir, com seu conjunto de procedimentos inéditos, a trazer um manancial de novas idéias sobre as múltiplas e infinitas possibilidades criativas de utilização poética da palavra.

As possibilidades poéticas dos ambigramas mostram-se análogas em amplitude e abertura às dos objetos plásticos, podendo vir a possibilitar uma revitalização do campo poético contemporâneo de forma inesperada. De uma maneira suave e despretensiosa, os ambigramas não surgiram como movimento literário ou ideológico, mas como manipulação lúdica e prazerosa das palavras por artistas gráficos, artistas plásticos e talentosos bissextos. Seus autores não participam de um engajamento militante, apenas exercitam sua criatividade de forma altamente lúdica e esteticamente transformadora. Embora à primeira vista as pessoas pensem que sua criação dependa de algum programa computacional, os melhores ambigramas foram criados no melhor estilo manual de tentativa e erro. Existe na realidade um programa experimental de geração de ambigramas, mas seus resultados deixam muito a desejar relativamente à sua qualidade visual, pois seu funcionamento é baseado em matrizes pré-definidas de pares de letras. O processo criativo envolvido no desenho de um ambigrama tem sido comparado à composição de uma peça musical, ambos envolvendo simetria e harmonia em doses fractalmente equilibradas.

Fenollosa, o conhecido estudioso do ideograma oriental, enunciou seu princípio básico: “Nesse processo de compor, duas coisas que se somam não produzem uma terceira, mas sugerem uma relação fundamental entre ambas”. Essa ideia coincide literalmente com o axioma gestaltiano, que perpassa toda a criação ambigramática. Os ambigramas encontram-se, então, no limite enevoado entre diferentes ordens de percepção, configurando uma dialética visual híbrida e ambígua. Híbrida, porque funde carnalmente a visualidade plástica com uma função semântico-pragmática, criando literalmente uma nova fisicalidade da palavra. Ambígua, porque faz uso extensivo de vários recursos da Gestalt-theorie, enganando o olhar de modo a conseguir seus estranhos e criativos resultados.



Alguns ambigramas feitos por uma das maiores referências nesta arte, Scott Kim





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