terça-feira, 30 de setembro de 2014

GALERIA MARGINAL #3

Artista: Anders Zorn (1860-1920)












PLANO-PILOTO PARA POESIA CONCRETA

Plano-Piloto para Poesia Concreta
Augusto de Campos, Décio Pignatari
e Haroldo de Campos
Noigrandes, 4, São Paulo, 1958

poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutura. espaço qualificado: estrutura espácio-temporal, em vez de desenvolvimento meramente temporístico-linear, daí a importância da idéia de ideograma, desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual, até o seu sentido específico (fenollosa/pound) de método de compor baseado na justaposição direta – analógica, não lógico-discursiva – de elementos. “il faut que notre intelligence s’habitue à comprendre synthético-ideographiquement au lieu de anlytico-discursivement” (apollinaire). eisenstein: ideograma e montagem.

precursores: mallarmé (un coup de dés, 1897): o primeiro salto qualitativo: “subdivisions prismatiques de l’idée”; espaço (“blancs”) e recursos tipográficos como elementos substantivos da composição. pound (the cantos):método ideogrâmico. joyce (Ulysses e finnegans wake): palavra-ideograma; interpenetração orgânica de tempo e espaço. cummings: atomização de palavras, tipografia fisiognômica; valorização expressionista do espaço. apollinaire (calligrammes): como visão, mais do que como realização. futurismo, dadaísmo: contribuições para a vida do problema. no/brasil:/oswald de andrade (1890-1954): “em comprimidos, minutos de poesia”./joão/cabral de melo neto (n. 1920 – o engenheiro e psicologia da composição mais anti-ode): linguagem direta, economia e arquitetura funcional do verso.

poesia concreta: tensão de palavras-coisas no espaço-tempo. estrutura dinâmica: multiplicidade de movimentos concomitantes. também na música – por definição, uma arte do tempo – intervém o espaço (webern e seus seguidores: boulez e stockhausen; música concreta e eletrônica); nas artes visuais – espaciais, por definição – intervém o tempo (mondrian e a série boogie-wogie; max bill; albers e a ambivalência perceptiva; arte concreta, em geral).

ideograma: apelo à comunicação não-verbal. o poema concreto comunica a sua própria estrutura: estrutura-conteúdo. o poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica). seu problema: um problema de funções-relações desse material. fatores de proximidade e semelhança, psicologia da gestalt. ritmo: força relacional. o poema concreto,usando o sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área lingüística específica – “verbivocovisual” – que participa das vantagens da comunicação não-verbal,s em abdicar das virtualidades da palavra. com o poema concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação; coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não-verbal, coma nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual comunicação de mensagens.

a poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à substantivação e à verbificação: “a moeda concreta da fala” (sapir). daí suas afinidades com as chamadas “línguas isolantes” (chinês): “quanto menos gramática exterior possui a língua chinesa, tanto mais gramática interior lhe é inerente (humboldt via cassirer). o chinês oferece um exemplo de sintaxe puramente relacional baseada exclusivamente na ordem das palavras (ver fenollosa, sapir e cassirer).

ao conflito de fundo-e-forma em busca de identificação,chamamos de isomorfismo. paralelamente ao isomorfismo fundo-forma, se desenvolve o isomorfismo espaço-tempo, que gera o movimento. o isomorfismo,num primeiro momento da pragmática poética, concreta, tendo à fisiognomia, a um movimento imitativo do real (motion); predomina a forma orgânica e a fenomenologia da composição. num estágio mais avançado, o isomorfismo tende a resolver-se em puro movimento estrutural (movement); nesta fase, predomina a forma geométrica e a matemática da composição (racionalismo sensível).

renunciando à disputa do “absoluto”, a poesia concreta permanece no campo magnético do relativo perene. cronomicrometragem do acaso. controle. cibernética. o poema como um mecanismo, regulando-se a próprio: “feed-back”. a comunicação mais rápida (implícito um problema de funcionalidade e de estrutura) confere ao poema um valor positivo e guia a sua própria confecção.

poesia concreta: uma responsabilidade integral perante a linguagem. realismo total. contra uma poesia de expressão, subjetiva e hedonística. criar problemas exatos e resolvê-los em termos de linguagem sensível. uma arte geral da palavra. o poema-produto: objeto útil.

augusto de campos
décio pignatari
haroldo de campos

post-scriptum 1961: “sem forma revolucionária não há arte revolucionária” (maiacóvski).


HÁ 41 ANOS PARTIA O POETA QUE ENCANTOU O CARTEIRO

Cena do filme O Carteiro e o Poeta, interpretado pelos atores Philippe Noiret como Pablo Neruda e Massimo Troisi, como Mario Ruppolo, o carteiro.

Na última terça-feira (23) a morte de Pablo Neruda completou 41 anos. Já se vão 4 décadas desde que o poeta socialista se foi, mas sua obra segue intacta, florindo sempre, não só nas primaveras.

Ainda hoje não se sabe o que causou a morte de Neruda, apesar de seu corpo ter sido exumado em 2013. Quando foi comprovada a versão emitida pelos agentes da ditadura militar de Augusto Pinochet, que o poeta morreu em decorrência de um câncer, os amigos mais próximos insistem em afirmar que, na verdade, ele foi assassinado pela repressão. Isabel Allende, amiga de Neruda, afirma que poucos dias depois do golpe contra Salvador Allende, ele morreu de tristeza. 

Nem só de poesia e amor o poeta chileno viveu, ele foi cônsul do Chile na Espanha por quatro anos, e senador em seu país. Além disso, abriu mão de sua candidatura à presidência, nos anos 70, para deixar que apenas Salvador Allende concorresse (e vencesse) ao cargo. A justificativa de Neruda é que ambos eram socialistas e acreditavam em uma América Latina mais justa. 

Seja como poeta ou como militante político, Neruda sempre ocupou lugar de destaque e foi considerado um dos mais importantes escritores da língua castelhana do século XX. Em meados de 1950 recebeu o Prêmio Lênin da Paz e na década de 70 foi consagrado com um Nobel de Literatura. Por este motivo, o então presidente Salvador Allende o convidou para falar  para mais de 70 mil pessoas no Estádio Nacional do Chile. 

O Carteiro e o Poeta

Em 1994 Michael Radford dirigiu o filme O Carteiro e o Poeta, que transpôs a vida de Neruda para uma pequena ilha na Itália onde supostamente o escritor teria sido exilado. Na ficção ele contrata um analfabeto para ser uma espécie de “carteiro particular”, e o funcionário acaba por se encantar pelas palavras, firmando assim uma bela amizade. 

Na vida real, durante o período retratado no filme, Neruda vivia com sua terceira esposa, Matilde, em Isla Negra, no Chile. 

Apesar de ter partido há mais de 40 anos, os versos de Neruda continuam atuais: “Só um louco pode desejar guerras. A guerra destrói a própria lógica da existência humana”. 

Por Mariana Serafini, da redação do Portal Vermelho

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

SOCRASTICKER #70

"Nem todas as rosas nascem com a mesma sorte. Umas enfeitam a vida, outras a morte."

MAFALDA N°720

APOSENTADO DECLAMA POESIAS DURANTE TRAJETO DE ÔNIBUS EM SOROCABA, SP


Idoso ficou conhecido entre os passageiros como o 'poeta do busão'.
Aposentado diz que tem cerca de 40 poesias, a maioria, sobre o amor.

Enquanto grandes cidades brasileiras estão enfrentando protestos por causa do transporte público - marcados, muitas vezes, pelos estragos causados por manifestantes, com registros de violência e depredação por onde passam -, em Sorocaba (SP), um aposentado, de 77 anos, procura amenizar os problemas para quem utiliza o meio como transporte diário: Copérnico Martinez, declama poesias durante as viagens.

Filho e neto de poetisas, o aposentado conta que herdou da família o dom da rima e, há 3 anos, decidiu dividir com os passageiros do transporte público de Sorocaba o seu talento. Para tanto, por onde passa o poeta, declama suas próprias composições e os ônibus se tornaram o lugar preferido.

"Hoje eu tenho, mais ou menos, umas 40 poesias de minha autoria, tenho até uma listagem dos títulos, para ter tudo em ordem. Se as pessoas me pedem uma poesia, eu tenho sobre tudo, mas a principal, sobre o amor. Poesia é para qualquer idade. Ela entra dentro da gente, mexe com nossos sentimentos", explica o aposentado.

Para a estudante Mariela Gará a pausa para a poesia de Copérnico traz alegria para o dia. Ela afirma que é um presente para os ouvidos em meio a correria. "Muda completamente o dia. Mexe com os sentimentos e anima. Às vezes, você está triste, indo trabalhar, daí você escuta uma poesia dessas e te anima", conta a estudante.

Poeta do 'busão', como ficou conhecido o aposentado, não carrega livros durante as viagens. Copérnico guarda tudo na cabeça, mostrando tamanha capacitação. Mesmo assim, nos ônibus, ele comenta que enfrenta olhares desconfiados de muitos passageiros, achando que está ali por dinheiro, quando, na verdade, diz ele, não é por isso.

"Já tentaram me dar dinheiro, mas não aceitei, isso não me interessa. Eu declamo as poesias para levar um pouco de alegria no coração das pessoas, eu só quero que elas ouçam. Vocês não sabem o quanto é gostoso receber um aplauso. Deus me deu esse dom e eu nunca vou me calar", ressalta o poeta.

E quando percebem a real intenção, relata Copérnico, muitos passageiros agradecem por ter alegrado, nem que seja um pouco, o dia dos passageiros.

"Conforta a gente, que está tão nervosa com a correria do dia. Essas são as coisas gostosas da vida e o mundo está precisando muito disso", reconhece a dona de casa e passageira do ônibus, Gislene de Oliveira.

GALERIA MARGINAL #2

Artista: Angelica Kauffmann (1741-1807)






domingo, 28 de setembro de 2014

VIVO

VIVO SEM REGALIA.
CULTIVO MEU SER
COM ARTE E FILOSOFIA.
EXPRIMO A VIDA
ATRAVÉS DA POESIA.

MUNDOS DOS LIVROS

ALGUNS TANTOS LIVROS
NOS LEVAM À OUTROS MUNDOS.
À MUNDOS ALEGRES,
À MUNDOS TACITURNOS.

OS OLHOS PERCORREM AS PÁGINAS,
AS PALAVRAS PENETRAM NA MENTE,
ENTRAMOS NUM MUNDO IMAGINÁRIO,
EM UM MUNDO CRIADO POR GENTE.

A CADA PÁGINA VIRADA
UMA JORNADA A SER PERCORRIDA,
O HERÓI DESVENDA MISTÉRIOS
ENQUANTO LUTA PELA VIDA.

MUNDOS DE AMORES PLATÔNICOS,
MUNDO DE AMORES VIVIDOS,
MUNDO DE AMORES INSANOS,
DE AMORES NÃO CORRESPONDIDOS.

A LEITURA É COMO UMA VIAGEM,
A IMAGINAÇÃO É SUA AMIGA,
EM QUALQUER MOMENTO E IDADE,
TORNANDO MAIS INTERESSANTE A VIDA.

O ABRIR DA MENTE

SERES COM MENTES HERMÉTICAS
QUE SE NEGAM A PENSAR,
ACREDITANDO EM FALÁCIAS PROFÉTICAS
DAQUELES QUE QUEREM NOS ALIENAR.

PELO QUE VEICULA NA GRANDE MÍDIA
SE DEIXAM SEMPRE INFLUENCIAR,
A MESMA QUE ALIMENTA A PERFÍDIA
E O CONSUMISMO SEM PAR.

NOS APRESENTAM PADRÕES ESTÉTICOS
PARA SEGUIRMOS E PARA SERMOS ACEITOS,
NOS TIRAM OS LIVROS QUE TRABALHAM O NOSSO INTELECTO
E NOS DÃO UM MANUAL PARA ALCANÇAR UM "CORPO PERFEITO".

SÃO MUITOS OS QUE SUBESTIMAM
A PRÓPRIA CAPACIDADE DE CRIAÇÃO,
SEMPRE RECORRENDO AO CONSUMO,
NÃO SABEM O QUE É AUTOGESTÃO.

UMA VEZ INSERIDOS NESTA REALIDADE
BUSQUEMOS SEMPRE EXPLICAÇÕES E RESPOSTAS,
NÃO DEIXEMOS QUE EM NOSSOS PENSAMENTOS
IMPEREM SUPOSTAS VERDADES IMPOSTAS.

DO SORRISO

CÍRCULO

PASSATEMPO

PROCRASTINAR

DUAS CARAS

VERSOS LIVRES

PALAVRAS QUE ANESTESIAM

PROCESSANDO

DESEJO

PALÍNDROMO DO DESAMADO

VIII

SPACE ODYSSEY

EVOLUIR

DA ESTUPIDEZ HUMANA

SOMOS ÁTOMOS

BARULHO

CONSUMERIST MIND

DA CRIATIVIDADE

MEIA NOVE

LAÇOS

POENTE

AO PÉ DA LETRA

ANTÍTESE

BOOM